Comunidades de Mogeiro-PB discutem sobre os cuidados com a cisterna de água para produção

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 20 de abril de 2018

Agricultores e agricultoras familiares das comunidades Gaspar, Granjeiro, Cumati, e Mangueira, em Mogeiro -PB,  participaram do Curso de Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA), facilitado pela equipe do programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do Centro de Ação Cultural (Centrac), em parceria com o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), Articulação do Semiárido Paraibano (ASA PB) e financiamento da Fundação Banco do Brasil.

O curso foi realizado durante os dias 17 e 19 de abril, na comunidade Gaspar, onde as famílias agricultoras discutiram sobre os cuidados com a cisterna de água para produção. “Eu vim aqui participar de um projeto que vem crescendo no nosso território. Que vem fortalecendo a criação animal, a alimentação. E eu costumo dizer que a gente tem que zelar por aquilo que a gente recebe, precisamos ter cuidado com a cisterna, mas também com a nossa natureza, nossos rios”, falou o agricultor Eduardo Lourenço.

No primeiro dia, os agricultores e agricultoras conversaram sobre as estratégias que já utilizam para melhor conviver no semiárido no período de estiagem, entre elas a reutilização da água da louça e das roupas, o armazenamento de forragem, o cultivo diversificado de fruteiras e hortaliças, a criação de pequenos animais como porcos e galinhas com restos de comida, cultivo de plantas nativas da caatinga, dentre outras. Em seguida, Zilma Rúbia, assessora técnica do Centrac, apresentou a diferença entre o combate à seca e a convivência com o semiárido. “As cisternas de água de beber e de produção oferecem autonomia aos agricultores, melhoram a qualidade de vida e oferecem alternativas para que as famílias possam melhor conviver com o semiárido. Diferente do que a gente via e ainda vê nos jornais sobre o nordeste, mostrado como um lugar seco e sem vida”, falou Zilma.

Na atividade, também foi discutida a importância do cultivo diversificado, o aproveitamento do espaço na hora do plantio, a economia solidária, o manejo da biodiversidade e o armazenamento de sementes nos bancos comunitários ou familiares. “Se a gente prestar atenção, a semente que a gente recebe do governo às vezes não nasce e não cozinha. E na maioria das vezes, só cresce em um ano, no outro já não presta. Tudo isso é uma estratégia para que a gente fique dependente e compre todos os anos. Por isso é importante que a gente preserve nossa semente, guarde, ofereça ao vizinho quando ele não tiver, incentive a comunidade a fazer seu banco familiar ou comunitário. A semente é a maior riqueza que a gente tem”, afirmou Zilma.

Os participantes também assistiram o vídeo “Conhecendo o caminho das águas”, que apresenta a história de dois agricultores que aprendem a conviver com o semiárido e as estratégias de armazenamento e manejo da água da chuva. No segundo dia do curso, foi iniciado um debate sobre o cenário de cortes nas políticas públicas que fortalecem a agricultura familiar, como o bolsa família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional da Agricultura Escolar (PNAE) entre outras políticas que fortalecem a permanência dos agricultores e jovens no campo. Também foram divididos quatro grupos para a construção de um mapa da comunidade. Na apresentação, foram destacados uma diversidade na produção animal e vegetal com plantas medicinais e frutíferas, plantas nativas da caatinga e ainda os reservatórios de água, como as cisternas, poços, barragens e açudes.

“A história da nossa comunidade, Cumati, vem do nome da árvore. Eu lembro que meu avô contava essa história. E é uma árvore que a gente tem que cuidar e preservar”, disse o agricultor Ivandro Alves de Lima. “A professora da escola do nosso filho fez um piquenique em baixo da árvore com os alunos, para explicar a eles como foi que o nome da comunidade surgiu e ainda fez um livrinho. Eu achei muito importante essa ideia dela, de também incentivar o plantio do cumati e ensinar a nossa história às crianças”, disse a agricultora Maria das Dores Lima.

“Há muito anos a gente vem utilizando uma técnica aqui na comunidade que é o semeio abafado, bem característica daqui. Todos os anos que chove bem, durante os meses de maio e junho a gente faz o semeio. Joga o feijão por cima do mato e depois passando cortando o mato por cima das sementes, isso protege o feijão e deixe a terra sempre úmida. Nos meses de agosto a gente passa colhendo”, conta o agricultor Paulo José da Silva, da comunidade Gaspar.

No período da tarde, os agricultores/as fizeram uma leitura coletiva dos 10 mandamentos dos cuidados com a cisterna, entre eles: manter a cisterna sempre fechada; manter a área de captação de água limpa; não lavar roupas, vasilhas ou tomar banho com a água da cisterna, dentre outros. Após a leitura, foi apresentado ainda o vídeo “Usando a água com sabedoria”, que aborda as estratégias de cultivo, biofertilizantes, criação animal e irrigação na perspectiva da convivência com o Semiárido. “Umas das coisas que chamou a atenção no vídeo foi o reaproveitamento da água, a gente coloca a brita, a areia, e filtra podendo já aproveitar nas fruteiras. Mas isso dá um retorno pra gente e mais economia”, disse Ivandro Lima.  “Tem gente que usa muito veneno, mata as abelhas, as formigas. Mas não é assim que funciona. A gente precisa entender que os insetos também fazem parte da natureza e que eles são importantes pra manter a ordem das coisas e a gente fica acabando com tudo”, disse o agricultor Antônio Rodrigues, da comunidade Gaspar.

A agricultora Maria Helena da Silva, da comunidade Granjeiro, conta que vai receber a cisterna do tipo enxurrada e fala sobre suas expectativas. “Eu gosto de plantar de tudo um pouco e o que a gente planta em casa é sem veneno. No inverno é bom, mas no verão, as plantas vão tudo morrendo sem água. Com a cisterna, eu vou poder plantar mais, uma comida saudável, fazer uns canteiros, que eu gosto muito das hortaliças, plantar tomate e o melhor é saber que a gente vai consumir um produto saudável”, disse a agricultora.

No último dia do curso, as 23 famílias beneficiadas pelo programa discutiram sobre os compromissos para a construção das cisternas.