Agricultores/as familiares de Aroeiras e Mogeiro trocam experiências em visita de Intercâmbio

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 15 de junho de 2018

Nos dias 13 e 14 de junho, famílias agricultoras dos municípios Mogeiro e Aroeiras – PB, acompanhados pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do Centro de Ação Cultural (Centrac), participaram de uma visita de intercâmbio. Durante os dois dias, 73 famílias participaram da atividade realizada em parceria com o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) e apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil.

No primeiro dia, 41 famílias de Aroeiras visitaram a propriedade da Agricultora Solange Araújo, na comunidade Bernardo. A agricultora deu as boas vindas e falou sobre a importância da troca de experiências entre os agricultores. “Como agricultores e agricultoras nós devemos aproveitar ao máximo essas tecnologias que chegam às nossas casas e entender que a água da cisterna do P1+2 é para produção, não para o consumo humano. Quando eu vou para um intercâmbio eu sempre trago uma novidade e procuro multiplicar e esse é um momento de entender o trabalho da outra pessoa e ver o que a gente pode melhorar na nossa propriedade”, contou Solange.

A agricultora tem um Sistema Agroflorestal (SAF) com uma diversidade de plantas frutíferas, hortaliças, espécies nativas da caatinga e forrageiras. Além de plantas medicinais e ornamentais. Ao passear pelo espaço, apresentou aos participantes suas estratégias para multiplicar as sementes e alguns tipos de defensivos naturais utilizados na plantação. “Quando dá uma lagarta aqui na horta, já coloco um pouco de urina de vaca ou a cinza misturada com água, que são ótimos defensivos naturais. Pra quem esta começando a cultivar, é sempre bom colocar árvores e feijão-guandu, que oferece sombra as hortaliças. O pé de nim também é muito bom para espantar as formigas, desde que plantei as formigas desapareceram”, afirmou.

Além das cisternas de água de beber e produção, a família de Solange possui outras tecnologias sociais que fortalecem a convivência com o semiárido, como o minhocário, o Sistema Simplificado de Reuso de Água e o Fogão Agroecológico. No minhocário, a agricultora utiliza apenas o esterco de gado e areia, em seguida a minhoca faz seu trabalho de produzir o húmus, um adubo rico em nutrientes. Com o reuso de água e o fogão, beneficiada pelo Projeto da Roça à Mesa do Centrac, Solange economiza o gás de cozinha e ainda reutiliza a água da pia e das roupas. “A água do reuso vai para a caixa d’água, passa por um cano e depois vai para a horta. A água sai bem escura das roupas, mas quando filtra fica bem limpa porque o reuso tem um recipiente com brita e areia, que é um filtro natural. É uma economia pra gente e também não deixo desperdiçar nenhuma água. Assim como o fogão, que já utilizo os galhos aqui da propriedade”, explicou.

Os participantes também conheceram o Banco de Sementes Comunitário e ainda receberam mudas de batata-beterraba, hortelã, insulina, penicilina, aroeira da praia, feijão-guandu. Conheceram ainda a experiência do Fundo Rotativo Solidário da comunidade e da Feira agroecológica de Aroeiras. “Na reunião do fundo rotativo a gente discute sobre outros temas, como o direito das mulheres, como beneficiar alguns produtos e é um espaço de discussão e fortalecimento pra gente. E o fundo também traz autonomia para as famílias e todos que estão envolvidos sabem do compromisso e contribuem para que outros possam construir novas tecnologias, comprar telas e melhorar a renda”, afirmou Solange.

“A horta de Solange é linda e ela tem uma farmácia viva em casa. É só correr pro quintal e encontrar tudo que precisa. Lá em casa eu já tenho 17 variedades de plantas medicinais e já plantei antes da cisterna. Agora que minha cisterna está terminando de ser construída eu pretendo cultivar mais. Também vi vários tipos de sementes que meus avós plantavam. E a gente não pode deixar perder. Eu plantei a semente de feijão carrapatinho e se eu lucrar vou trazer para o banco de sementes daqui, porque quando a gente tem a nossa semente a gente tem autonomia. Choveu, a gente já está com a nossa garrafinha na mão. Pode não ter um real no bolso, mas tem semente garantida”, contou o agricultor Gilvanildo Albuquerque, do sítio Mari.

No segundo dia de intercâmbio, o casal de agricultores Ramos Feitosa e Evilane de Paiva apresentou sua propriedade aos agricultores e agricultoras de Mogeiro. “Eu sou filho da terra, mas fui morar no Rio de Janeiro e lá conheci minha esposa, que é do Ceará. De lá eu ajudava meu pai que continuava morando aqui. Graças a Deus consegui voltar e hoje vivo da agricultora com a minha família”, contou Ramos, apresentando as fruteiras que estão espalhadas pelo arredor da casa. “Eu comecei a plantar aqui na propriedade antes de vir morar e só faz dois meses que recebi a cisterna calçadão. Já tem Mangueira, coqueiro, maracujá, bananeira, laranja. Logo que chegamos na Paraíba fomos morar ao lado da casa do meu pai, mas o espaço lá era pequeno. Então nos organizamos para construir uma casa aqui em baixo, perto do barreiro que eu já tinha iniciado a construção quando ainda estava morando no Rio”, ressaltou o agricultor.

Durante a visita, a família mostrou a experiência de plantar o maracujá com e sem o adubo orgânico do carneiro. “Coloquei adubo no tronco e o maracujá cresce bem mais que o outro, eu também fiz isso no inhame e deu certo. Vocês podem ver também que no maracujá tem muita borboleta. Elas estão querendo colocar lagarta, mas eu espero e quando as lagartas aparecem eu coloco um defensivo natural de castanha que aprendi no Sisma e mata tudo”, contou Ramos.

O casal possui uma pequena criação de porcos, das raças pietrain e landrace. E Evilane também cria galinhas de capoeira gogó de sola. O agricultor prefere a raça de landrace, pois conta que o animal pode chegar até 200 kg e tem pouca gordura. Já a agricultora, sempre criou galinhas de capoeira gogó de sola. “Eu gosto demais das minhas galinhas. A gogó de sola é a que eu mais cuido, porque tem uma carne boa, engorda rápido e coloca ovos grandes. Sempre que a gente precisa eu vendo, mas nunca deixo de guardar as melhores, principalmente as boas poedeiras”, afirmou Evilane.

“O que tem sustentado o agricultor hoje é a criação de pequenos animais, como a galinha, o porco, a cabra. E as pessoas acham que o porco é um animal seboso, mas não é isso. Você sempre deve deixar o ambiente dele limpo e isso dá trabalho. Mas ele oferece uma renda muito boa pra quem sabe cuidar. Quando eu pensei em aumentar minha criação de porcos eu fiz logo uma fossa para que as fezes não fossem para o barreiro. No futuro, isso pode me gerar renda com um biodigestor, por exemplo. No Sisma, eu aprendi também a fazer um biofertilizante muito bom e já coloquei no pé de manga, que não vingava de jeito nenhum. Ele é feito com soro do leite, esterco do gado, capim ou cana, rapadura e açúcar. No começo ele fede, mas serve demais e ainda dá pra vender”, ressaltou Ramos.

Na propriedade, o casal tem um tanque de 200 m² com tilápias que servem para alimentação da família e para a venda. Também cultivam macaxeira, plantas medicinais e ornamentais. Em 2017, venderam para o Programa Aquisição de Alimentos (PAA) o valor de 6 mil e 500 reais de macaxeira. Este ano, ele também espera vender o inhame. E incentiva os agricultores e agricultoras da comunidade a sempre acessarem as políticas públicas que fortalecem a agricultura familiar.

“Todos aqui têm uma propriedade diferente. Mas a gente tem que pensar no manejo dela. A forma de plantar influência muito e também não pode esquecer de cuidar solo. Às vezes a gente cultiva e não dá certo, mas tem que ter planejamento como Raminho fez e pensar no que pode melhorar”, falou o agricultor Judival da Cruz. “Eu sei que a cisterna veio somar na nossa família. As hortaliças a gente não podia plantar porque não tinha água doce. Hoje a gente pode produzir a nossa verdura, nossa leguminosa e não comprar na feira. Saber o que a gente tá consumindo e produzindo um produto saudável, sem veneno”, afirmou Ramos.