Agricultores conhecem experiências de estratégias de comercialização durante visita ao Cariri Paraibano

Publicado por Aurea Olimpia
Campina Grande, 12 de julho de 2018

No último dia 11 de julho, um grupo formado por cerca de 30 agricultores e agricultoras conheceram o conjunto das experiências do casal Célia Araújo e Aldo Gonçalves, em sua propriedade conhecida como “Rodeamor” na comunidade Rodeador, município de Boqueirão, Cariri Oriental da Paraíba. O grupo de visitantes veio dos municípios Aroeiras, Mogeiro e Campina Grande e estão articulados pelo Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, com o apoio do Centro de Ação Cultural – Centrac. A visita teve o objetivo de promover a troca de saberes e estimular as potencialidades das famílias agricultoras na área da criação animal e na comercialização.

Célia e Aldo trabalham em uma propriedade de 51 hectares em uma região seca e com terras bastante degradadas. Apesar de terem outras criações e plantações, o local desenvolveu uma vocação para a caprinocultura. Segundo o casal, a princípio, a criação de caprinos era apenas o suporte para a criação de gado. Mas com o passar do tempo, viram que criar bois e vacas se tornou insustentável por seu alto custo: “Em 2013, a gente pensou, porque não criar cabras? Que são mistas, para leite e para corte. E daí foi surgindo a ideia de não ficar só no leite, só na carne e na venda dos animais, passamos a produzir queijo. Mas a gente não queria um queijo qualquer, inchado e com cheiro de ‘pai de chiqueiro’. Foram muitos testes para chegarmos em um produto de qualidade, com grande aceitação nos mercados”, explica Célia.

Hoje o casal conseguiu realizar o plano de fazer com que a propriedade conseguisse se autofinanciar e ser a fonte de renda da família. Além de venderem o queijo com variados sabores (orégano, pimenta, marmeleiro), o leite, o doce, a cocada, eles ainda comercializam variadas opções de corte da carne, sub produtos como a buchada e o picado, até o próprio couro: “Se é para você vender um boi a dez reais o quilo e ainda ter que pagar o frete, é melhor vender o quilo de bode a quinze reais e ainda levar de moto”, explicou Aldo, sobre as vantagens que perceberam ao trocar a criação de gado pela de caprinos.

Os visitantes conheceram essa experiência, além do manejo que é feito com as espécies nativas da caatinga, para a produção, o beneficiamento e o armazenamento de forragem para os cerca de 100 animais, entre caprinos e ovinos, além da criação de galinhas de capoeira. No Rodeamor, quase 100% da ração dos animais, é retirada da propriedade, o que de acordo com Aldo e Célia, faz com que reduza os custos de produção e aumente o rendimento. Outra estratégia, é o uso de cercas elétricas de baixa tensão para ajudar a disciplinar os animais e evitar que os bichos pulem as cercas ou subam nas cocheiras.

Os participantes do intercâmbio conheceram o banco de proteínas, reserva viva de plantas forrageiras que dá suporte à alimentação dos animais, além da fenação e a silagem. Outro ponto forte da visita foram as estratégias de comercialização da família, que é associada ao Coletivo Asa Cariri Oriental – Casaco, uma associação de agricultores familiares agroecológicos ligada à Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba, que mantém a Tenda Agroecológica do Cariri Oriental, um espaço regional de comercialização da agricultura familiar na cidade de Boqueirão. Atualmente, cerca de 20 famílias tem enviado semanalmente seus produtos para a Tenda e para feiras agroecológicas de Campina Grande, Soledade e João Pessoa. O local ainda possui uma estrutura mínima para unidade de beneficiamento e é onde funciona a sede da associação.

Ao final da visita, os participantes compartilharam as suas impressões sobre o que viram. A agricultora Josete Silva de Moura, do Sítio Manuela, em Aroeiras-PB, ficou impressionada com o nível de aproveitamento das plantas e até restos de alimentos utilizados na ração animal: “O que aprendi aqui é o que a gente estraga lá. A própria canafístula, cansei de cortar, achando que não servia para nada. A casca da macaxeira, o algodão, vi que aqui já servem de ração para os animais, é um aprendizado”, disse.

Severino dos Ramos Feitosa, do assentamento Dom Marcelo, município de Mogeiro, ficou impressionando com os resultados da produção: “Me impressionou a eficiência do sistema de criação deles. Qualquer um que chegar aqui, talvez não enxergue, mas quando eles foram explicando, a gente pode perceber isso”. O jovem Joab Pereira, do Assentamento João Pedro Teixeira pretende colocar em prática o que aprendeu durante a visita: “Nosso assentamento tem uma diversidade muito grande, mas vou procurar diversificar ainda mais com esses exemplos aqui, principalmente as leguminosas, para fortalecer o nosso solo, que é arenoso”.

“Estamos em uma região muito seca, certamente muito agricultores foram embora, desistiram. A experiência de Célia e do Casaco é um foco de resistência”, afirmou Madalena Medeiros, assessora técnica do Centrac, que acompanhou a visita. “Eu vou levando muita riqueza, que é o conhecimento que vou levar como uma inspiração para que a gente possa melhorar o que a gente já faz”, finalizou dona Lindalva Oliveira, do assentamento Dom Marcelo, em Mogeiro.