Agricultores de Puxinanã e Mogeiro conhecem experiências de feirantes de Lagoa Seca-PB

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 29 de agosto de 2018

Na terça-feira, 28 de agosto, agricultoras e agricultores de Puxinanã e Mogeiro-PB, municípios que fazem parte do Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, participaram de uma visita de intercâmbio para conhecer as experiências de produção egestão da Feira Agroecológica de Lagoa Seca, no Brejo Paraibano, com o objetivo de tirarem lições para o processo de constituição de suas feiras agroecológicas que estão em processo de construção.

A atividade foi promovida pelo Centro de Ação Cultural – Centrac, através do Projeto da Roça à Mesa: “Tecnologias Sociais Gerando Autonomia e Renda no Semiárido Paraibano”, desenvolvido no município de Puxinanã com apoio da Fundação Banco do Brasil – FBB/Voluntários, do Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento – CCFD, agência de cooperação internacional francesa, e por meio da plataforma Programa Mercosul Social e Solidário – PMSS, da qual o Centrac faz parte.

A visita aconteceu na sede do Banco Mãe de Sementes em Lagoa Seca, com as boas vindas dos agricultores e agricultoras integrantes da feira, acompanhada de um café da manhã agroecológico. Em seguida, os participantes visitaram a propriedade do agricultor Nelson Ferreira, para conhecer sua estratégia de produção diversifica, as estratégias de manejo agroecológicos e estocagem de água.

A propriedade de Nelson e família têm 6,3 hectares e possui uma diversidade na produção vegetal, com hortaliças, roçados de macaxeira, mandioca, batata, jerimum, num sistema de consórcio. Tem ainda árvores frutíferas, plantas medicinais, ornamentais, forrageiras e criação de galinhas de capoeira.  “A gente, que é da agricultura, tem que ver o que se adapta melhor a nossa região, a nossa palma aqui no brejo é a mandioca. O gado come, a gente tira e come, faz a farinha, o beiju, tem muita utilidade pra a gente. Eu recomendo pra quem é agricultor aqui da região do agreste que não deveria esquecer nunca essa cultura. Esse é o boi do pobre, uma cultura indígena de muita sabedoria”, disse o agricultor.

No segundo momento, o agricultor Nelson apresentou um pouco da linha do tempo da história da organização dos agricultores no município de Lagoa Seca. “Na década de 80, a igreja e o Centrac foram às instituições que mais apoiaram a organização dos trabalhadores. Depois veio o Patac com um outro projeto e tecnologias. A situação dos agricultores era muito difícil. As culturas do fumo, do abacaxi e do algodão foram muito exploradas e esgotaram as melhores terras. Era uma época fértil, o solo era bom, tinha muitas abelhas, rios. Mas o desmatamento foi avançando a terra foi enfraquecendo e na década de 90 chegou a crise”, afirmou Nelson.

Em seguida, os agricultores e agricultoras de Lagoa Seca abordaram a forma de organização da Feira Agroecológica, o processo de precificação, a certificação tanto participativa agroecológica como orgânica e o controle do processo do manejo agroecológico. “A gente começou a feira com um fundo rotativo, numa média de 25 barracas. Depois conseguimos um projeto e compramos mais. Mas a nossa feira não é só de produto mas de experiências, quando a gente não tem produto a gente vai assim mesmo, conversa entre a gente, com os clientes. A gente tem que pensar também que o primeiro objetivo é a integração da família, a segurança alimentar. O que sobra a gente leva pra feira, mesmo que seja pouco e pode vender de tudo, galinha, coentro, sementes”, disse a agricultora Marlene Pereira, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca.

“Todas as famílias da feira de Lagoa Seca têm um certificado de produção orgânica. E eles também fazem a fiscalização entre si, sabem quando o vizinho está realmente produzindo de forma agroecológica e o consumidor também. Mas, temos ainda a EcoBorborema, que é a organização de controle social das feiras”, falou Wagner Santos, bolsista do Instituto Nacional do Semiárido na área de fertilidade do solo.

A feira de Lagoa Seca acontece aos sábados, junto à feira convencional, se destacando pelas barracas, que são verdes. Os agricultores também contribuem semanalmente com 5 reais, pra o fundo de feira. O fundo é destinado à manutenção das barracas, a formações, transporte. Também contribuem mensalmente com um fundo pra a Ecoborborema.

“Antes eu não gostava de ver meu pai na agricultura, porque eu achava que ele poderia ter uma vida melhor. Hoje, depois de casada, eu comecei a acompanhar minha sogra numas reuniões e fui aprendendo como o trabalho é diferente do que eu pensava, não é vergonhoso. E minha vida mudou, entrei na feira, vendo e como  alimento saudável e tenho orgulho de ser agricultora e filha de agricultor. Também incentivo meu filho pra que ele tome gosto pela agricultura também”, contou Denise Teófilo, integrante da feira agroecológica de Lagoa Seca.

O agricultor Ramos Feitosa, de Mogeiro, falou sobre a importância de fazer o planejamento do plantio: “Desde que a gente está com a cisterna de produção, a gente vem produzindo couve, coentro, repolho, pimentão. E isso é uma economia de 40 a 50 reais por semana. Eu vou plantando junto com minha esposa aos poucos, pra toda semana ter o suficiente para o consumo e para a venda. É só fazer o planejamento que dá certo, respeitando o tempo de cada cultura”.

“A propriedade também tem que entrar num sistema de transição agroecológica, não comprar sementes transgênicas, não comprar insumos. Porque o sistema capitalista escraviza os agricultores. A produção agroecológica preza por você viver do que a terra oferece. Pode até dar trabalho, mas você não precisa comprar sementes, seu esterco está lá, da criação animal. Não vai comprar milho fora e tudo isso garante a sua segurança alimentar. Pode até não ter o lucro no bolso, mas tem na garantia da saúde e uma encomia embutida no que você consome”, concluiu Nelson Ferreira.

“Uma feira agroecológica em Puxinanã vai ser muito bom pra gente, porque vai ser uma renda a mais. Eu sempre tenho coentro macaxeira, mudas e a gente já pode levar pra feira”, disse a agricultora Zilda Araújo. Ao término do Encontro, os agricultores/as receberam sementes de milho para multiplicação.