Fórum de Lideranças do Agreste realiza evento de avaliação em Itatuba-PB

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 10 de dezembro de 2018

Nos dias 06 e 07 de dezembro, no município de Itatuba-PB, 40 representantes do Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, em parceria com o Centro de Ação Cultural – Centrac e o Serviço Pastoral do Migrante do Nordeste – SPM NE, realizaram um evento de avaliação de suas ações em 2018.

A programação teve início com uma visita à propriedade do casal de agricultores Luís Ernesto da Silva e Luzia Bezerra da Silva, no Sítio Serra Velha. No local, os agricultores e agricultoras representantes dos 16 municípios do Fórum, junto com assessores técnicos, conheceram experiências do quintal produtivo de ‘Lita’ como é mais conhecida, além do biodigestor, “farmácia viva”, sistema de reuso de água, banco de sementes comunitário, fossa ecológica e criação animal.

No período da tarde, os representantes de cada município trouxeram para o centro do círculo variados tipos de sementes, frutas, legumes e outros símbolos da agricultura em seus municípios. Houve então uma rodada sobre as impressões e lições aprendidas durante a visita da manhã.

Convidado pela organização do evento, o professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, diácono e educador popular Alder Júlio Callado, facilitou um momento de análise de conjuntura. Em sua fala, ele ressaltou dois pontos que considera fundamentais para a resistência dos mais pobres numa conjuntura de retirada de direitos: a organização no coletivo e a formação política sintonizada com as raízes populares. “A escola forma para o mercado, nossa formação é aquela que nos forma como ‘gente’, no sentido Freireano, com inspiração da educação popular de Paulo Freire, não é à toa que essa forma de conceber a educação venha sofrendo tantos ataques”.

Ele lembrou do passado quanto cenários desafiadores como o que o país vive na atualidade de crise econômica e desgaste da política e suas instituições, foram os mais férteis do ponto de vista de mobilização e organização da sociedade e reafirmou a tarefa que as forças populares e democráticas têm pela frente: “A luta dos povos frutificou mais em tempos adversos. É preciso reavivar essa memória, para recolher forças e modos de agir que não perderam a validade. É no coletivo que está essa força. Agora estamos sendo chamados a reforçar nossa capacidade de luta e organização enquanto sociedade civil, não podemos repetir os erros do passado”.

Alder Júlio criticou a confusão que existe entre as iniciativas públicas e estatais e lembrou das muitas formas de auto organização que as comunidades sempre encontraram de financiar suas ações e resistir no semiárido: “Nossas conquistas nem sempre dependeram de ações governamentais, o que não quer dizer que não devemos brigar por elas. Mas devemos recuperar a ideia do público, no sentido do que é popular, e buscar a autonomia de sobreviver com os nossos tostões. Que venham os apoios, são muito bem vindos, mas o essencial precisa vir da gente”, disse.

As provocações do educador motivaram uma rodada de debate. Dona Lindalva Antônia de Oliveira, do Assentamento Padre João em Mogeiro-PB, foi uma das a se colocar: “Eu muito mal sei escrever meu nome, mas à partir da igreja católica, lá atrás, a partir dessa formação, que encaramos a luta pela terra no assentamento e foi aí que se abriu um mundo novo para a gente”. Morador também do Padre João, José Ronaldo correia complementou: “Hoje se eu sou assentado, foi porque alguém foi lá e pegou na minha mão, me deu força, hoje eu vejo uma dificuldade muito grande das pessoas quererem se envolver, muita falta de compromisso, infelizmente”, disse.

Os trabalhos do dia foram encerrados com um trabalho em grupo onde os participantes revisitaram o planejamento do início do ano e levantaram os avanços e o que conseguiu ser feito em cada município a partir dos temas mobilizadores: água, sementes, juventude, mulheres, comercialização, criação animal, etc. Após isso, houve uma noite cultural e de integração entre os presentes.

O segundo dia começou com uma socialização dos trabalhos em grupo da tarde anterior. Apareceram como pontos positivos: a realização dos testes de transgenia pelo apoio do Projeto Sementes do Semiárido; o envolvimento das lideranças do Folia em eventos importantes como a Caravana das Águas e da Agroecologia, o Encontro Nacional de Agroecologia e a Oficina de Raças Nativas; os mutirões para o armazenamento de forragem em alguns municípios; o início da articulação da juventude camponesa no território com um primeiro encontro de jovens do Folia e a interação com o GT de Juventude da Articulação do Semiárido Paraibano e com o Projeto Pedagroeco; o surgimento de novas feiras agroecológicas na região, além da venda dos agricultores para programas de compra direta e a compra da alimentação dos eventos de formação das famílias agricultoras do território.

A participação das mulheres do Folia na pesquisa nacional das Cadernetas Agroecológicas, onde agricultoras dos municípios de Itatuba e Aroeiras anotavam e levantavam informação sobre tudo que saia do seu quintal na forma de doações, consumo próprio ou venda, foi destacada por Lita Bezerra de Itatuba: “Antes de anotar na caderneta, a gente não tinha noção do que a gente ganhava. E muitas vezes escutávamos dos nosso maridos ‘eu que boto o sustento em casa’. Descobri que o mês que eu menos ganhei foram R$ 500. Isso daí deixou a mulher mais empoderada, dizendo ‘eu também sou forte, eu também coloquei o sustento dentro de casa”, afirma dona Lita.

A segunda metade da manhã foi dedicada ao levantamento dos desafios e outros apontamentos a serem trabalhados em um momento posterior de planejamento no início do ano que vem. A ideia é poder aprofundar os desafios e apontar soluções a partir das práticas coletivas no Fórum. Alguns dos desafios mais lembrados foram: a distribuição de sementes transgênicas pelos governos; a competitividade das feiras agroecológicas diante dos produtos convencionais; o uso de veneno que ainda persiste em alguns locais; a ampliação dos fundos rotativos solidários e o fortalecimento dos já existentes; a falta de incentivo para a participação dos jovens e a problemática da violência contra a mulher e o fortalecimento das comissões municipais.