Durante intercâmbio, agricultores e agricultoras de Umbuzeiro e Aroeiras, região do agreste paraibano, compartilharam experiências em visita a propriedade da agricultora e liderança Solange Araújo, na comunidade Bernardo, em Aroeiras, agreste paraibano.
Solange Araújo vive na propriedade com seu esposo José Pedro Araújo e seu filho mais novo, Sávio Araújo. Com a água da cisterna para produção do tipo calçadão, a família cultiva hortaliças, fruteiras e plantas medicinais. Criam ainda galinhas, vacas e dividem as tarefas entre eles, além de cultivarem sem o uso de agrotóxicos, valorizando as sementes nativas.
Ao receber os visitantes, Solange falou sobre sua propriedade e valorizou as tecnologias sociais que já foram implementadas. “Ao passear aqui pelo arredor de casa, vocês vão ver o reuso de água, o fogão agroecológico, o minhocário, o banco de sementes e eu sempre digo que elas são pequenas, mas são muito importantes no nosso dia a dia, na economia e para o trabalho que a gente faz”, afirmou a agricultora.
Solange apresentou primeiro o minhocário e como ele funciona. “É muito simples cultivar as minhocas. Quando eu comecei, o Centrac nos entregou 1kg de minhoca e eu coloquei nessa caixa aqui somente com esterco de gado. Mas tem alguns cuidados. Não pode deixar encharcar, proteger do sol, das formigas e também não colocar comida. Quando a minhoca produz o húmus, eu coloco sempre nas minhas hortaliças e também vendo para os vizinhos e na feira agroecológica, é um excelente adubo”, disse.
Em seguida, os agricultores conheceram como funciona o Sistema Simplificado de Reuso de Reuso de Água. A família reutiliza a água da pia de lavar louças, roupas e a do banho para regar as plantas depois que a água passa por um processo de filtragem. Na parte de cima do reuso, Solange já plantou couve, tomate e agora planta macaxeira.
Os agricultores e agricultoras também perguntaram sobre as receitas naturais que a família utiliza para combater as pragas e doenças na plantação. A agricultora contou que utiliza sempre a folha de nim, a castanha com álcool e pimenta. “Como aqui a gente planta muita diversidade, as pragas não chegam. E quando tem eu já faço as receitas com o que tenho aqui na propriedade mesmo. Pego o nim, coloco num balde com água e pulverizo as plantas, é um ótimo inseticida”, disse Solange. O agricultor Antônio Ferreira, do Sítio Chã da Barra em Aroeiras, também deu dicas de como preparar um biofertilizante. Ele fez e já utilizou em sua produção e contou ter um excelente resultado.
A próxima parada foi no Banco Comunitário de Sementes e na cozinha para conhecer o fogão ecológico. Solange falou sobre como é feito o armazenamento e também o funcionamento no Banco de Sementes. “Aqui no banco a gente tem 23 sócios, cada pessoa que vem aqui e pega uma garrafa com sementes, se lucrar, devolve duas. É um jeito de a gente manter o banco em funcionamento e nunca perder a nossa semente da paixão. Tenho que vir sempre aqui olhar se deu algum bicho, ver se as garrafas estão bem fechadas”, ressaltou.
Os visitantes também conheceram como funciona o Fundo Rotativo Solidário (FRS) de Mulheres da Comunidade Bernardo. Michele Vieira, que é agricultora e também participa do FRS falou que o recurso já serviu para a tela de galinheiro e cabras, fogão, compra de animais e reformas. “Tem gente que acha que é preconceito, mas decidimos que o Fundo é só de mulheres porque a gente quer ter um espaço, conversar e também ter mais autonomia”, afirmou a agricultora da Comunidade Bernardo.
“Eu vi muita coisa interessante aqui hoje e a vontade é de fazer na propriedade da gente também. Na minha terra, eu e meu esposo, aproveitamos as pedras e barro da propriedade e fizemos um barramento. Também colocamos um cano que leva a água da pia direto pra esse espaço e lá a gente planta de tudo: frutas, verduras, legumes, macaxeira e deu certo”, disse a agricultora Rafaela Joaquim, da comunidade Mumbuca em Umbuzeiro-PB.
As agricultoras também trocaram receitas com plantas medicinais e ainda sobre o funcionamento do fogão ecológico. “Com esse fogão eu economizo muita lenha, faz mais de um ano que eu não sei o que é um gás de cozinha, porque eu nem uso mais. Enquanto cozinho o feijão e o arroz, já faço um café e já posso assar uma carne ou fazer um bolo no forno. Foi a melhor coisa que eu poderia ter na minha casa. E eu cuido demais. Sempre limpo pra não ficar com as bocas e a lareira entupidas”, disse Ângela Rodrigues também da Comunidade Bernardo.
Ao término da visita, Solange doou mudas de nim e sementes de pimenta, pimentão, bucha, moringa e feijão azulão. A atividade faz parte das ações do Programa Desenvolvimento Sustentável do Centrac, realizadas em parceria com o Fórum de Lideranças do Agreste – Folia com apoio da Plataforma Mercosul Social e Solidário – PMSS, das agências de cooperação internacional Misereor da Alemanha e CCFD – Terre Solidaire da França e da Fundação Banco do Brasil Voluntariado – FBB.