Mais de mil agricultoras e agricultores, organizações, movimentos sociais, universidades, professoras/es e estudantes de escolas municipais e estaduais de 42 municípios da região sudoeste do Paraná estiveram reunidos na XV Festa Regional de Sementes, que teve como tema “Sementes da Resistência: Compromisso das Gerações”.
A festa foi realizada nesta quinta-feira (12 de julho) no Centro de Múltiplo Uso do município de Planalto, promovida pelo Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais do Campo e da Cidade e pela Prefeitura e entidades do município de Planalto. Estiveram presentes organizações integrantes da Plataforma Mercosul Social e Solidário – PMSS: A Assesoar situada em Francisco Beltrão no Paraná (Uma das organizações promotoras do evento), o Centro de Ação Comunitária – Cedac do Rio de Janeiro (Coordenação Nacional PMSS) e o Centro de Ação Cultural – Centrac da Paraíba (Secretaria Executiva PMSS).
Dando inicio a festividade, as pessoas foram recebidas por uma moda de viola. Em seguida, Cristiane Katzer da Coordenação Executiva da Assesoar deu as boas vindas e enfatizou a importância da partilha de sementes para o fortalecimento da agroecologia. “Esta é uma festa de resistência aos ataques as sementes e retrocessos que vêm atingindo a classe trabalhadora, um encontro de troca, de partilha de sementes e de conhecimento. Precisamos continuar resistindo, mas sempre lembrando que juntos podemos construir um futuro mais forte”, afirmou Cristiane.
O representante do Fórum Regional, Paulo Roberto e o Prefeito de Planalto, Inácio José Werle, também estiveram presentes. “Esse é um momento que não tem comercialização, mas todos podem trazer suas sementes e fazer a partilha do conhecimento e das experiências, que nós entendemos que também é uma forma de multiplicação das sementes”, ressaltou Inácio.
Estudantes do 2º ao 4º ano da Escola Solange Bueno da Silva participaram do evento com uma apresentação alusiva ao tema da festa, acordando o compromisso das gerações com a reprodução das sementes. Logo após, o professor Pós-doutor em sociologia e especialista em agroecologia, Antônio Andrioli da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, falou sobre a importância do conceito de sustentabilidade enquanto compromisso com as gerações futuras e a necessidade da resistência para a manutenção da agricultura familiar em um contexto de perdas de direitos. “Sementes como patrimônio genético é simbologia e esperança para o futuro e deveriam ser declaradas como patrimônio dos agricultores e agricultoras e não das empresas”, afirmou Andrioli, ressaltando ainda os ganhos do Brasil em políticas públicas voltadas a agricultura familiar num período de 10 anos e que hoje encontram-se ameaçadas ou extintas.
Na parte da tarde, foi realizada uma mística resgatando as lutas e conquistas da agricultura familiar na região e no Brasil. Foi feita ainda a leitura da carta política da festa que fala sobre o golpe e ascensão de um governo ilegítimo, o avanço do agronegócio e os retrocessos às políticas públicas. Após esse momento, deu-se início a partilha das sementes, precedida por uma benção religiosa. Na ocasião, houve a troca de uma grande variedade de sementes crioulas, com diversos tipos de milho, feijão, tubérculos, mudas de frutíferas, amendoins, cevada, trigo, aveia e outros grãos. Também foram apresentados os trabalhos feitos com sementes por estudantes das escolas municipais e estaduais do Planalto.
A agricultora Antônia Cardoso, de Pérola do Oeste – PR, participou de várias edições da Festa. Este ano, ela conta da alegria de poder partilhar as sementes e compartilhar as experiências com outros agricultores e agricultoras. “Hoje eu trouxe várias sementes para trocar aqui na festa e estou levando pra casa feijão, duas sementes de plantas medicinais e batata cará. Estou muito feliz. É uma festa bonita, a comunidade está participando e a gente aprende bastante”, contou Antônia.
“Este é um importante momento para reafirmar a importância da agricultura familiar para reprodução da agrosociobiodiversidade, pois as sementes representam a resistência dos povos a imposição de um sistema que não considera a reprodução da vida como prioridade e sim como mercadoria, por isso apoiamos, valorizamos e investimos em iniciativas como essa”, disse a secretária executiva da Plataforma Mercosul, Ana Patrícia Sampaio.
Carta da XV Festa Regional das Sementes
Sementes da Resistência: compromisso das gerações
O Brasil vivencia um momento de significativos retrocessos aos direitos humanos, aos direitos sociais e à soberania nacional. O Golpe de 2016, guiado por interesses internacionais e na contramão dos interesses populares, está consolidando-se através de ações executadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer com apoio da maioria do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), as quais já resultam em: aumento do número de pessoas em situação de extrema pobreza no país; aumento da taxa de desemprego; queda real do salário mínimo; redução drástica de investimentos na saúde e educação; privatizações de empresas estatais e leilões de campos de petróleo a preços irrisórios a empresas multinacionais.
Estas ações visam a construção de um estado mínimo para a classe trabalhadora, com cortes e congelamentos orçamentários sobre direitos conquistados e garantidos na Constituição Federal. Ao mesmo tempo, estrutura-se um Estado máximo aos interesses do capital internacional.
No campo, a agricultura familiar e camponesa passam por um momento de grande fragilidade diante do crescente avanço do agronegócio sobre os territórios e do desmonte das políticas públicas que contribuíram para alavancar a produção e o acesso aos alimentos. Situação agravada pelas frequentes emendas constitucionais e projetos de leis propostos pela bancada ruralista, financiados por multinacionais, que visam: incentivar ainda mais a utilização de agrotóxicos; atacar o direito a agrobiodiversidade e; aumentar a concentração fundiária, da produção e distribuição de alimentos no país.
Há 15 anos a Festa Regional das Sementes se constitui como um espaço de articulação do campo e cidade, de resistência e de defesa da biodiversidade, contribuindo para o fortalecimento da agroecologia e a soberania dos povos.
Defendemos a Soberania Alimentar como um direito do qual não se pode abrir mão, podendo ser garantido pela livre produção e comercialização de sementes crioulas por agricultores familiares e camponeses e com um maior incentivo a policultura ao invés da monocultura, por exemplo. Esta é uma luta que se iniciou através dos movimentos sociais do campo e que se estendeu para a cidade e para instituições de ensino e pesquisa como as universidades, que afeta diretamente a toda sociedade, pois todos necessitam se alimentar, tendo o direito e a opção de acesso a alimentos saudáveis, nutritivos e de qualidade.
Denunciamos todas as ações que estão sendo realizadas contra o povo, a crescente criminalização e a violência contra quem defende os interesses da classe trabalhadora e os ataques à soberania nacional.
Reforçamos a importância da luta conjunta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade para barrar os retrocessos, fortalecer outro modelo produtivo e construir uma política de desenvolvimento popular e soberano para o país.
Somos sementes da resistência e reafirmamos, a partir da produção de alimentos saudáveis e da preservação da biodiversidade, nossos compromissos na construção de uma sociedade justa e igualitária para todos/as nós e para as futuras gerações!
Planalto/PR, 12 de julho de 2018
Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais do Campo e da Cidade
Prefeitura Municipal de Planalto