Cerca de 50 catadores e catadores de materiais recicláveis e gestores públicos de Campina Grande participaram do encontro de avaliação final do Projeto “Cooperar para Melhor Coletar”, desenvolvido pelo Centro de Ação Cultural (Centrac) desde 2013. O encontro aconteceu no Centro de Formação de Professores do Governo do Estado e teve como objetivo fazer um balanço das ações dos três anos de projeto.
A programação teve início com as boas vindas, apresentação dos participantes e da proposta do encontro. Foi feito então um momento de análise de conjuntura, com a facilitação da cientista social e coordenadora do Programa Juventude e Participação Política do Centrac, Ana Patrícia Sampaio. Ela falou de acontecimentos da atualidade que tem reflexos na vida das pessoas com a ajuda dos catadores e catadoras que foram levantando problemas dos dias de hoje como as crises hídrica e econômica, a dengue, zika, microcefalia, corrupção, insegurança e dificuldade no acesso à saúde e a educação.
Ana Patrícia falou sobre as ameaças à democracia que o país vem enfrentando, fruto de uma crise política, onde forças reacionárias se recusam a aceitar o resultado das urnas e tentam derrubar o governo a qualquer custo: “A gente precisa entender que os problemas que estão aí não foram criados pela ação de uma única pessoa, são um conjunto de fatores. Quem sofre com algum problema em Campina Grande tem que dividir a responsabilidade de no mínimo três pessoas: o prefeito, o governador e a presidente. No momento de fazer a crítica, a gente está mirando só uma das responsáveis, a presidente da república. A gente tem que lembrar que temos muitas conquistas, e nós não podemos perder isso, inclusive o direito de criticar o governo, houve um tempo que a gente não tinha o direito de dizer isso, era preso, sumia. E tem muita gente pedindo esse tempo de volta, pedindo intervenção militar, isso nós não podemos permitir”, disse.
Em seguida, a coordenadora do Projeto “Cooperar para Melhor Coletar” Mary Alves, relembrou a trajetória de organização dos catadores, que tem início nos anos 90, em Belo Horizonte, primeira cidade a implantar a coleta seletiva, e tem como marco importante o I Congresso Nacional de Catadores em 2001, que reuniu 1.700 membros da categoria em Brasília-DF. Na ocasião foi fundado o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). O evento produziu a chamada “Carta de Brasília” onde a categoria elencou os princípios do movimento e estabeleceu as prioridades para as políticas públicas de atenção ao segmento.
Mary relembrou ainda as principais conquistas no campo das políticas públicas como os programas Pro-Catador e Cata Forte, o Brasil Sem Miséria, que atende a segmentos mais vulneráveis socialmente, incluindo os catadores e suas famílias, além de um conjunto de leis e decretos que garantiram o reconhecimento da categoria enquanto profissão e mais, recentemente, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que preconiza a inclusão socioeconômica dos catadores e catadoras.
Lançamento – Após uma rápida rodada de debate, foi feito o lançamento do Vídeo: “Catadores de Dignidade”, produzido pela equipe do Centrac e pela Agência Café Com Propaganda. “A gente sabe a diferença que faz pra os catadores serem vistos, para os gestores públicos saberem que vocês existem, mais que isso, identificar vocês, para que qualquer ação que venha para o município, eles já saibam quem, onde estão e como vivem os catadores”, afirmou Mary Alves.
No final da manhã a plenária se dividiu em três grupos para avaliar cada um dos três eixos do projeto: 1 – Identificação, cadastramento, mobilização; Campanha (Seminários, material produzido, divulgação); 2 – Processos formativos (cursos e oficinas); 3 – Construção de políticas públicas e inclusão dos/as catadores/as. Em cada grupo foi feita uma apresentação do eixo e listadas as principais ações.
Em seguida, os catadores e catadoras levantaram aspectos positivos e negativos ao longo do processo de formação do projeto. Foram lembrados como avanços: os processos de formação e a oportunidade de aprender mais, o acesso a outra políticas, a exemplo da moradia, o conhecimento acerca dos direitos e a possibilidade de cobrar aos gestores públicos, o apoio à luta por melhores condições de trabalho, o fortalecimento dos catadores organizados e avulsos, a identificação dos catadores para os poderes públicos e a Campanha “Recicle o seu preconceito e o transforme em respeito” organizada dentro das ações do projeto que teve peças divulgadas em rádio, televisão e outbus, de valorização da figura do catador e catadora, entre outros pontos. Como desafios foram lembrados: a continuidade de ações como a do projeto, a curta duração de veiculação das peças da campanha e a necessidade de produzir mais material pedagógico audiovisuais, dada a limitação dos catadores e catadoras não alfabetizados.
Lucicleide Henrique, da Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis (COTRAMARE), destacou o avanço da construção de um contrato para permitir que poder público municipal faça a contratação dos catadores para a realização da coleta seletiva no município: “Acho que isso ajudou muito a gente, essa ação com a prefeitura, vai ajudar pra gente ser reconhecido no nosso trabalho, ter um salário, e ajudar também os catadores que não estavam organizados a se organizar”, avaliou.
No período da tarde, houve a devolução dos grupos com a socialização dos debates e uma mística de encerramento, onde os participantes do encontro colocaram seus desejos e suas expectativas para a continuidade do trabalho, na fase pós-projeto.
O projeto “Cooperar para Melhor Coletar: ações de contribuição para a melhoria das condições de vida e de trabalho dos catadores e catadoras dos municípios de Campina Grande, Queimadas e Lagoa Seca”, é desenvolvido pelo Centrac em convênio com o Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) por meio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes). Encontros de avaliação como este acontecerão com catadores dos municípios de Queimadas (18 de março) e Lagoa Seca (05 de abril).