Nos dias 19, 20 e 21 de dezembro, o Centro de Ação Cultural – Centrac, em parceria com a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) e apoio da Fundação Banco do Brasil, realizou o primeiro Curso de Sistema Simplificado de Manejo de Água para Irrigação (SISMA) do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). O curso aconteceu na Escola Municipal Maria Paulino Barbosa na comunidade Carapebas, município de Aroeiras – PB, reunindo 33 famílias agriculturas das comunidades Ponciano, Samambaia, Carapebas, Camará e Tamanduá.
No primeiro dia do curso, os agricultores e agricultoras relembraram os temas discutidos no Curso de Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos (GAPA), como as estratégias de convivência com o semiárido; o que são transgênicos; a importância de guardar as sementes; estocagem de ração animal e estocagem de água. Alguns agricultores e agricultoras falaram ainda sobre as mudanças que já começaram a fazer na propriedade depois do curso. “A gente nem percebe o quanto a gente pode fazer diferente pra melhorar nosso trabalho e a vida dos animais. Depois que cheguei em casa, conversei com meu marido e já separamos um espaço na frente de casa pra eu começar a fazer meu jardim. Também percebemos que uma árvore do quintal não estava absorvendo água, então a gente colocou alguns pneus velhos ao redor, com enxerto, pra absorver mais a água e deu certo”, contou a agricultora Gláucia Oliveira, de Carapebas.
Em seguida, Madalena Medeiros, da equipe técnica do Centrac, propôs um debate sobre os modelos de agricultura, a partir do vídeo “3 Mitos sobre a agroecologia”. “Um quarto do planeta se tornou improdutivo por conta do manejo incorreto e Aroeiras já mostra muito disso. A agricultura convencional não está preocupada com os cuidados da terra, nem com o solo e com a água, mas a agricultura familiar de base agroecológica se importa em manter a diversificação da produção, preservar as sementes e não explora as pessoas e o meio ambiente”, afirmou Madalena.
Também foi apresentado o vídeo “7 verdades sobre o agronegócio” e o “O veneno está da Mesa”, que abordam as consequências do consumo de alimentos cultivados com veneno e o que pode acontecer quando as famílias ficam expostas ou se alimentam com produtos envenenados. “Os agrotóxicos também estão provocando a extinção das abelhas, o desmatamento e as mudanças climáticas”, afirmou Madalena, apresentando ainda alguns dados do Greenpeace Brasil, organização que atua em defesa do meio ambiente, sobre os agrotóxicos encontrados nos alimentos. “Só no tomate foram encontrados quatro tipos diferentes de resíduos, incluindo um agrotóxico proibido”, ressaltou.
No segundo momento, os participantes se dividiram em grupos para discutir sobre os transgênicos e em seguida assistiram ao vídeo “Não planto transgênicos para não apagar a minha história”. “No vídeo eu vi que a gente tem que separar a semente da ponta do milho e guardar as sementes do meio. Eu sempre fiz isso com a minha mãe desde pequeno, porque ela dizia que as melhores sementes estão no meio”, disse o agricultor Ivanildo José de Lira, da comunidade Tamanduá.
“No tempo do meu avô não tinha essa coisa de feijão carioquinha não, era feijão mulatinho que a gente comia. E agora é um monte de feijão que a gente nem conhece”, conta o agricultor José Barbosa, da comunidade Samambaia. “Isso porque a indústria de sementes está mexendo com a nossa soberania e nossa autonomia econômica e de conhecimento. Além de mexer com a nossa saúde, nosso meio ambiente, nos deixando dependentes de suas sementes”, afirmou Madalena.
Foi apresentado ainda um painel de uma pequena propriedade. O agricultores/as fizeram um exercício de identificar e propor algumas mudanças para deixar a propriedade melhor, comparando o antes e o depois da propriedade com a cisterna de água de beber e de produção, com a divisão do trabalho da família e a plantação diversificada.
Na quarta-feira (20), foi realizado um diagnóstico com as famílias para definir o caráter produtivo. No período da tarde, os agricultores e agricultoras realizaram trocas de sementes e mudas e compartilharam algumas receitas de biofertilizantes. Na quinta-feira (21), foi abordado o tema da estocagem de forragem animal e ainda os deveres e compromissos com os cuidados com cisterna de segunda água.
“Eu acho que o curso está agregando muito conhecimento e ideias que a gente não tinha, como o reutilizar a água, conservar a água das plantas, colocar os animais na sombra, cultivar sem veneno. Eu nunca plantei com veneno, mas aqui na comunidade muitas pessoas não sabiam como isso é prejudicial. Eu também gosto muito de cuidar dos animais e com a cisterna calçadão vou poder criar galinhas e plantar uma horta e eu já estou começando a fazer adubo de casca de inhame e cará pra quando a cisterna chegar eu já ter tudo pronto”, conta a agricultura Gláucia Oliveira.
Através da parceria com o Centrac, o Programa P1+2 atenderá 186 famílias dos municípios de Mogeiro e Aroeiras, com as cisternas do tipo calçadão e enxurrada. Inicialmente, já foram feitas as capacitações das comissões municipais dos dois municípios e seleção e cadastramento de 43 famílias com cursos de GAPA e SISMA. Os dois municípios compõem o território de atuação do Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, uma das dinâmicas microrregionais que fazem parte da ASA Paraíba.