Um grupo de jovens que participa do Intercâmbio de Saberes nos Semiáridos da América Latina – Juventude e Agroecologia visitou a propriedade do jovem agricultor Joab Luciano Rodrigues, no assentamento João Pedro Texeira, em Mogeiro-PB. O evento reúne cerca de 100 pessoas, entre elas jovens, mulheres, agricultores e agricultoras e técnicos/as de projetos que trabalham com desenvolvimento rural no Brasil, Argentina Bolívia, Paraguai. Nicarágua e El Salvador.
Durante a visita, o jovem Joab, que vive com os pais e dois irmãos, pode compartilhar suas experiências de manejo agroecológico, criação animal, e técnicas que aprendeu durante o curso técnico em agroecologia pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta) de Pernambuco. O agricultor também faz parte das dinâmicas do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) e ressalta a importância de estar presente nos espaços de construção coletiva da comunidade.
Ao passear pelo arredor de casa, Joab junto com seu pai Francisco Rodrigues, apresentou primeiro a casa de farinha e como é feita a produção, desde o plantio até a venda. Este ano, a família já plantou quase 4 hectares de mandioca, que é a principal fonte de renda da família atualmente. A produção da farinha e da goma é feita semanalmente, em torno de dois a três dias por semana. Joab conta ainda que a venda é feita na comunidade e também na Feira Agroecológica de Mogeiro, da qual ele também faz parte. “A gente tenta investir ao máximo nos materiais que a gente utiliza na produção da goma. Meu pai comprou um rolo, que é utilizado para descascar a mandioca e isso permite que o trabalho da gente seja mais rápido e menos cansativo. Vender na feira também foi um avanço pra gente, porque não precisamos perde o valor da goma com atravessadores e ainda tem um diferencial, porque toda nossa produção é agroecológica, não utilizamos agrotóxicos”, falou Joab.
O agricultor também explica aos visitantes como nada é desperdiçado na propriedade. A farinha que não serve para a venda, depois de peneirada, é utilizada como forragem para os animais e as cascas da mandioca também. Além do roçado de mandioca e macaxeira, a família investe na criação de pequenos animais como porcos, galinhas e perus e ainda na produção de hortaliças para o consumo. Tem alface, pimentão, pimentas, tomate e ainda as plantas ornamentais, as medicinais e as árvores frutíferas de mamão, laranja, limão, dentre outras. Na horta, Joab também faz o plantio a partir de um Sistema Agroflorestal (SAF), fazendo um consórcio de plantas, isso permite que o ambiente seja autossuficiente, diminuindo a necessidade de insumos externos e, consequentemente, reduzindo os custos de produção.
Na propriedade tem um Sistema Simplificado de Reuso de Água, uma cisterna de água de beber e outra para produção. Seu Francisco, mais conhecido como Chico, conta que as duas estão cheias, “se tivesse mais espaço pra armazenar eu tinha armazenado mais, as chuvas, Graças a Deus, foram uma benção e tem sido bom aqui na região”, disse o agricultor.
Os jovens da Bahia, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Nicarágua, Argentina, Guatemala e Paraíba que estiveram na visita, também puderam compartilhar suas experiências. A agricultora Oralia Raimundo, da Guatemala, falou sobre como o tomate cereja e o pimentão que viu na propriedade de Joab, é parecido com o que ela cultivado em seu país. A textura, o sabor, mas o que muda é o aspecto da folhagem.
No segundo momento, Joab explicou melhor a história da sua família, a trajetória pelo acesso a terra e como se deu a transição agroecológica. “Antes de fazer o curso eu pensava em ir embora daqui, trabalhar na cidade, mas depois que eu entrei no curso técnico eu comecei a perceber como é possível viver da agricultura, inovando, experimentando e ainda fazendo isso de forma agroecológica. Antes, minha família utilizava veneno na produção e depois que eu me formei, tentei aos poucos ir mostrando outras alternativas e hoje a gente tem uma nova forma de fazer agricultura”, ressaltou Joab. “Hoje eu estou estudando uma forma de fazer melhor a limpeza do solo, ou plantar sem precisar fazer essa limpeza, pois a gente gasta muito tempo e é bem cansativo”, enfatizou ainda o agricultor. Falando também sobre as receitas naturais que utiliza na propriedade para o combate de pragas e doenças, como a calda bordalesa e outras receitas a base de pimenta.
A agricultora Oralia falou que se utiliza muito em sua região uma receita natural com alho, cebola e outras ervas, para evitar que esses pequenos matos cresçam e se perca tempo com a limpeza do solo. A agricultora Lisseth Escalante, da Nicarágua, falou sobre um estudo de solos que já fez para identificar a fertilidade e ainda para saber se o solo é arenoso, se está próximo do barro. Os jovens que já fizeram o curso de Agroecologia, também já participaram de um estudo semelhante e puderam trocar mais ideias sobre o tema.
Numa roda de conversa, o grupo percebeu como as experiências de estados e países diferentes são semelhantes e decidiram trocar e-mails com materiais e estudos agroecológicos, além de receitas para o combate de fungos e pragas.
O intercâmbio se encerra nesta sexta-feira, 26 de julho, em Solânea. O evento teve um formato de caravana, com início em Caruaru-PE, passando por Campina Grande, com visitas a comunidades rurais que se destacam na produção agroecológica, organização comunitária e acesso à água entre jovens. O jovem paraibano Gabriel Gutierrez , do assentamento Padre João, em Mogeiro, contou sobre a experiência de ter participado de um vento como este. “Eu achei super interessante o sistema agroflorestal que a gente conheceu em Belo Jardim, lá em Pernambuco. A produção de hortaliças, que é o foco do jovem, é feita em menos de 1 hectare de terra. Ele também consegue ter uma boa renda com essa produção e ainda vende na feira agroecológica. Hoje eu pude conhecer o processo da farinha, aqui em Joab e essas experiências são muito importantes pra gente, pro jovem agricultor se inspirar, conhecendo outras histórias”, afirmou Gabriel.
Saiba mais sobre o evento: https://centrac.org.br/2019/07/17/jovens-agricultores-de-cinco-paises-da-america-latina-visitarao-comunidades-rurais-da-paraiba-e-pernambuco/