Nesta segunda-feira, 26 de agosto, membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Campina Grande (CMDRS), estiveram reunidos na sede do Centro de Ação Cultural (Centrac) para discutir sobre o tema: “Agrotóxicos e os impactos na segurança alimentar e nutricional”. Participaram da discussão aproximadamente 15 pessoas, entre elas agricultores e agricultoras, representantes de sindicatos e associações rurais e o secretário municipal de agricultura e abastecimento de Campina Grande Renato Gadelha. A atividade foi realizada pelo CMDRS de Campina Grande, em parceria com o Centrac e o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), com apoio de Misereor, agência de cooperação internacional da Alemanha.
Dando início ao debate, foram destacados alguns relatos de experiências com o uso de agrotóxicos. “Há muito anos, eu me intoxiquei quando apliquei veneno no roçado. Fiquei me coçando e quando tirei a camisa meu corpo estava todo vermelho. Depois desse dia, eu nunca mais utilizei nada. Hoje eu faço receitas naturais, converso com a comunidade, mas as pessoas ainda não acreditam que o agrotóxico é prejudicial. Só pensam no lucro”, esclareceu o agricultor Francisco Galdino Soares, do sítio Massapê, em Galante-PB.
A coordenadora do Programa Desenvolvimento Sustentável do Centrac, Madalena Medeiros, falou sobre os pacotes tecnológicos disseminados durante a chamada ‘revolução verde’ na década de 80: “Os agrotóxicos surgem com o intuito de aumentar a produção. Com as sementes compradas, vem os herbicidas para plantas, os fertilizantes químicos e as máquinas”, ressaltou Madalena, falando ainda sobre a Campanha permanente contra os agrotóxicos no Brasil. “Desde 2008, o Brasil é o país campeão mundial de uso de agrotóxicos e a grande maioria deles causa mutação genética. Foram liberados 290 tipos de agrotóxicos, e alguns deles tem o 2-4D que é um herbicida proibido em várias partes do mundo e aqui foi liberado”, disse.
Em seguida, foram discutidos sobre os cuidados com as sementes. O agricultor Francisco, falou sobre o milho que guarda há 50 anos e de como é feito o armazenamento. “Primeiro a gente tira a ponta e o pé do milho e guarda só a parte do meio. Assim não dá problema com a semente, nascem todas e sem nenhuma espiga furada. O banco de sementes comunitário também é muito importante porque se a gente compra o milho que vende no comércio e planta, ele se mistura com o nosso milho da paixão e a gente acaba perdendo a semente”, falou o agricultor.
“O agricultor que guarda a semente, também está guardando conhecimento, identidade e vai garantindo autonomia e também vai fazendo o melhoramento genético natural aos seleciona as melhores sementes, assim como seu Francisco faz, isso é ciência, e construção do conhecimento. Mas, quando compramos uma semente que vem de uma região diferente da nossa e não é adaptada, fica mais difícil, porque não temos o conhecimento associado a ela. Algumas delas são geneticamente modificadas, transgênicas e contaminam as sementes crioulas, como o milho, que tem uma polinização aberta”, disse Madalena Medeiros. O secretário de agricultura, Renato Gadelha, também falou sobre a importância do plantio em consórcio do algodão colorido para a região.
No debate, também foi discutida a importância do plantio consorciado e diversificado, uma estratégia que contribui para a diversidade e o combate a pragas e doenças, o que mantém o ambiente equilibrado. O vice-presidente do CMDRS, José Apolinário Nascimento, na ocasião, falou sobre a importância do conselho e de momentos de formação para os membros. “As coisas que foram apontadas aqui é pra gente cobrar políticas públicas em cima dessas áreas, transgênicos e agrotóxicos. O papel do conselho é esse, formular e exigir”, disse.
Ao término da oficina foram entregues alguns materiais informativos sobre os Cuidados com as sementes.