Agricultoras e agricultores familiares do Agreste, mesorregião da Paraíba, estão se adaptando aos reflexos da pandemia no campo, comercializando seus produtos e retomando as entregas dos alimentos porta a porta, prática realizada antes da criação das feiras agroecológicas em alguns municípios da região.
A mudança se deu devido aos reflexos causados pelo coronavírus e com o fechamento dos espaços de comercialização abertos, como nos municípios de Aroeiras, Ingá, Itabaina, Mogeiro e Puxinanã, onde aconteciam as feiras agroecológicas. Em Puxinanã, a prefeitura reabriu os espaços de comercialização, mas a maioria das famílias feirantes optou por não retomar as vendas devido ao aumento dos casos da COVID-19.
Nos municípios de Itabaiana e Aroeiras, já foram registrados 45 e 13 casos respectivamente, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB de 22.05.2020). Este índice tem deixado as comunidades rurais em alerta e reforçado o uso das medidas de proteção para evitar a contaminação e proliferação do vírus no campo.
Em Aroeiras, o casal de agricultores Expedito e Rita Silva, está vendendo tapioca e coentro na porta de casa aos domingos. “O faturamento tem sido pouco nesse momento, mas o que podemos vender na porta de casa estamos vendendo. Aqui a gente se protege como pode até que as coisas voltem a funcionar e sempre usando máscaras”, contou o agricultor Expedito.
A agricultora Maria Bernadete Gomes, da Comunidade Bernardo, em Aroeiras, também falou como está sendo realizada a venda. “Os clientes que eu tenho no whatsapp eu mando mensagem toda semana falando dos produtos. Tem ovo de capoeira, queijo, manteiga e coentro. Daí eu separo e levo na casa deles. Vou sempre de máscara e levo álcool em gel. Como eu tenho transporte, boto o queijo na caixa térmica que minha filha comprou com o recurso do Fundo Rotativo Solidário e isso tem ajudado bastante a gente”, afirmou a agricultora.
As famílias agricultoras que não participam das feiras agroecológicas continuam produzindo e trocando alimentos entre si, o que permite que tenham mais diversidade na alimentação e não precisem ir até a cidade para comprar.
Nos Sítio Jenipapo de Cima, em Puxinanã, a agricultora Zilda tem produzido uma variedade de produtos com a água da cisterna calçadão e oferecido à vizinhança da comunidade. “Eu tenho manga, coentro, alface, macaxeira roxa e branca e também estou com um plantio de couve e cenoura. O pessoal tem vindo bastante aqui em casa comprar e meus vizinhos tem procurado muito coentro”, disse Zilda.
São essas alternativas e a chegada das chuvas que têm garantido o sustento das famílias no campo. “O trabalho que o Centrac vem realizando tem sido muito importante, tanto nas formações sobre o não uso de produtos químicos e agrotóxicos, a preservação das sementes, outras alternativas de manejo e principalmente a implementação das tecnologias sociais porque sem elas algumas famílias agricultoras não estariam produzindo pela falta de água”, afirmou a assessora técnica do Centro de Ação Cultural (Centrac), Zilma Maximino. “E continuamos reforçando nos grupos das feiras e comissões municipais os cuidados desde o momento da produção no campo até a comercialização. O uso de máscaras, o não compartilhamento de objetos de trabalho no roçado e a organização nos campos de multiplicação de sementes, para que não se aglomerem no roçado, porque essas são algumas formas da gente evitar o contágio do coranavírus”, conclui Zilma.
Aroeiras, Mogeiro, Ingá, Itabaiana e Puxinanã são municípios que integram o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), que atualmente é composto por 16 municípios e tem assessoria do Centrac e do Serviço Pastoral Migrante (SPM), com ações e implementação de tecnologias sociais, como os fogões agroecológicos e o reuso de água, que fortalecem a produção e a segurança alimentar das famílias agricultoras. As ações também contam com o apoio da Plataforma Mercosul Social e Solidário (PMSS) e da cooperação internacional: MISEREOR (Alemanha),CCFD-Terre Solidaire e Embaixada da França (França).