Comunidade de Mogeiro-PB implementa campo de multiplicação de sementes de milho crioulo

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 21 de dezembro de 2020

Produzir sementes de variedades crioula para abastecimento ou manutenção dos Bancos de Sementes Comunitários de forma a favorecer a autonomia e a soberania alimentar e nutricional são alguns dos objetivos do Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido, desenvolvido pela Aspta – Agroecologia em parceria com o Centro de Ação Cultural – Centrac nos territórios da Borborema e do Fórum de Lideranças do Agreste – Folia.

Na manhã da última sexta-feira, 18 de dezembro, a equipe do projeto realizou uma oficina para implementação do campo de multiplicação de milho crioulo no Assentamento Dom Marcelo, município de Mogeiro-PB, região do Agreste Paraibano. Desde a segunda-feira, 14 de dezembro, os agricultores e agricultoras do assentamento se organizaram e deram início aos primeiros passos para implementação do campo, que consiste na instalação da caixa d’água, cercamento da área, preparação do solo, adubação orgânica e montagem do sistema de irrigação.

A multiplicação de sementes da paixão (crioula) tem sido uma prática realizada no Assentamento. Durante o período de isolamento social, as famílias plantaram coletivamente sementes de girassol, milho, feijão verde ligeiro e amendoim, todas sementes crioulas que foram armazenadas no banco comunitário.

Durante a oficina, facilitada por Madalena Medeiros do Centrac e Ana Elisa Oliveira da Aspta, foi apresentado o vídeo “Não planto transgênico para não apagar minha história”, seguido de um debate sobre a ameaça dos transgênicos as sementes crioulas e a construção coletiva de   estratégias para conservação das sementes crioulas.  “A estratégia é não plantar as sementes perto, eu plantei a semente do meu milho em um terreno com mais de 500 metros de distância do vizinho e com uma ladeira no meio. Deu certo! A semente não cruzou. Eu peguei a semente no banco, plantei, lucrei e trouxe de volta pro banco”, contou o agricultor José Maria da Silva, presidente da Associação de agricultores do Assentamento Dom Marcelo.

“Eu já tive experiência no meu terreno, já plantei um milho numa parte e meu genro plantou um milho transgênico perto. Na época eu conversei com ele que os milhos iam se cruzar e eu ia perder minha semente. Quando fiz o teste, meu milho deu transgênico porque houve o cruzamento da minha semente com a dele. Agora já disse a ele que perto do meu terreno ele não planta mais”, afirmou a agricultora Maria José Rodrigues.

De acordo com a assessora técnica da Aspta, Ana Elisa Oliveira, “Isso acontece porque o milho é uma planta muito namoradeira, ele cruza com ele mesmo e cruza com os vizinhos e isso é um perigo para as sementes crioulas. Porque a contaminação é muito rápida. A ideia do projeto é que vocês tenham mais autonomia sobre as sementes, que não precisem comprar porque a gente sabe que a semente está muito cara”, disse.

Para evitar a contaminação das sementes na comunidade, os agricultores e agricultoras levantaram algumas sugestões, tais como: plantar afastado de outros roçados, selecionar e guardar as sementes para não precisar comprar no ano seguinte, não plantar sementes desconhecidas, não usar máquinas coletivas para debulhar, armazenar as sementes que servirão para o plantio e fazer campos de multiplicação.

“Todo plantio tem um sistema diferente, é preciso conhecer a época de plantar, o tempo da chuva, se precisa de pouca água ou muita água, o tipo da terra e não precisa usar de veneno. Essa é uma semente boa e que vale a pena a gente comer”, ressaltou o agricultor Severino do Nascimento.

No segundo momento da oficina, Madalena Medeiros do Centrac relembrou o planejamento realizado em fevereiro no Assentamento: escolha do local, cuidados com a área, cercas para evitar que os animais entrem, espaçamento, número de plantas por cova, definição e organização dos materiais necessários, preparo do solo e adubação orgânica. O outro passo foi o monitoramento e as pragas que podem atacar o plantio nesse período, como o gafanhoto e a lagarta que as são mais frequentes na região.

Para saber se a semente vai produzir bem, foi realizado um teste de germinação durante a oficina, feito com guardanapo, semente de milho e água. “O ideal é que nós façamos o teste para identificar o percentual de germinação. Coloquei 30 sementes de milho aqui e a gente vai avaliar o percentual de germinação. O ideal é ir para o campo sementes que apresentem percentual acima de 50%”, afirmou Madalena Medeiros.

Na prática, os participantes foram até o campo de multiplicação, que funciona com sistema de irrigação por gotejamento. No campo foi instalado um pluviômetro, para medir a intensidade das possíveis chuvas. Isso permite que os agricultores/as possam medir a quantidade de água de chuva e economizar na irrigação. Como encaminhamentos, foram divididas as equipes para monitorar a irrigação diariamente, o desbaste, a limpa e o controle de pragas e doenças.

O Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido – é desenvolvido em 5 estados do Brasil.  Na Paraíba, é realizado no território do Polo da Borborema, com a assessoria da ASPTA Agroecologia e no território do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) que conta com assessoria do Centrac e tem apoio financeiro do BNDES Embrapa e a Articulação do Semiárido Brasileiro.