Agricultores e agricultoras do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) participaram do Encontro Estadual de Incidência Política promovido pela Articulação do Semiárido Paraibano (ASA PB) junto a outras lideranças e organizações dos 7 sete territórios de atuação da Rede Asa PB. A atividade aconteceu em Boqueirão, território do Cariri, região do Coletivo ASA Cariri Oriental (Casaco), nos dias 11 e 12 de maio.
A atividade marca a retomada das atividades presenciais depois de 2 anos realizando eventos virtuais, devido a pandemia. Um dos objetivos do encontro foi refletir sobre o papel e o lugar da Sociedade Civil na relação com o Estado, no sentido da formulação de políticas públicas para convivência com o Semiárido, tendo em vista o período eleitoral deste ano (2022) e os desafios futuros.
No primeiro dia foram discutidos os avanços e desafios de políticas públicas de acesso à água, sementes vegetais e animais, comercialização, crédito e Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER).
Um dos temas discutidos e que tem afetado as famílias agricultoras da Paraíba atualmente é a instalação de parques de energia Eólica e Solar em áreas rurais. Essa implantação tem mudado o modo de vida de agricultoras e agricultores, reproduzindo a concentração agrária e acelerando o processo de desertificação da Caatinga. “Não só as energias eólicas estão impactando no nosso território, mas a solar também. Nós não somos contra a esse tipo de energia, mas uma energia não é limpa se destrói a agricultura e desapropria famílias. Famílias que estão sendo forçadas a aderir a esses parques de grande escala e estão sendo enganadas pelas empresas, com falsas promessas de bons rendimentos”, disse Patrícia Almeida, assessora técnica do Centro de Ação Cultural-CENTRAC.
No segundo momento, o professor Jonas Duarte, do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi convidado para fazer uma análise de conjuntura política com foco no processo eleitoral. “Precisamos reacender os movimentos populares. Esse é o nosso desafio”, afirmou o Jonas, reforçando a importância de o povo estar nas ruas, lutando contra as perdas de políticas públicas e os retrocessos após esse período de isolamento social. “As eleições de 2022 são uma oportunidade para mudar essa conjuntura, se elegermos representantes que defendam as pautas e demandas dos povos do Semiárido. Estamos vivendo um mundo de dominação imperialista que está morrendo e a ascensão das forças progressistas aqui no Brasil pode ajudar a acelerar esse processo”.
Outro debate importante foi sobre a multiplicação e conservação das sementes vegetais da paixão. “Temos um histórico de mais de 10 anos de distribuição de sementes híbridas e isso tem afetado a autonomia das famílias, sem contar na distribuição de sementes transgênicas pelo governo estado”, disse a liderança Roselita Victor, do Polo da Borborema. Roselita reforça que a rede precisa continuar pensando em estratégias de comunicação e de ação contra as ameaças do agronegócio e dos transgênicos, apontando caminhos de diálogo com os governos municipais e estaduais.
O evento encerrou trazendo algumas estratégias para formulação do plano de incidência: o enfretamento ao modelo (de larga escala) de implantação aos parques de energia renovável nos territórios; a formulação de um ‘Projeto Ambiental em Rede para o reflorestamento da Caatinga’; O mapeamento dos candidatos e candidatas do campo popular que dialogam com o nosso projeto político e a elaboração de um material de comunicação para ser trabalhado nas comunidades, que denuncie os candidatos/as contrários a esse projeto; a realização de um debate com os postulantes ao governo estadual para apresentação das pautas da agroecologia e da convivência com o semiárido; a realização de um encontro com as juventudes dos territórios para debater sobre as eleições e o voto consciente e reafirmação da agricultura familiar como produtora de alimentos trazendo como base a terra, a água e as sementes.