“É preciso discutir a política em todos os espaços porque é a política que decide os rumos da vida da gente”, disse o professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Jonas Duarte, durante o Encontro “Eleições 2022 e o futuro do Brasil” realizado pelo Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, na última sexta-feira (8 de julho).
A atividade reuniu agricultoras e agricultores familiares, jovens integrantes do Fórum de Lideranças do Agreste- Folia e as entidades de assessoria: Centro de Ação Cultural – CENTRAC, Comissão Pastoral da Terra – CPT e Serviço Pastoral Migrante – SPM, com o objetivo de refletir sobre a conjuntura política e as eleições gerais de outubro.
“Esse é um ano decisivo para o Brasil, a América Latina e o mundo, mas principalmente pra gente, pro nosso cotidiano. Não podemos pensar no Brasil de forma isolada. Vivemos num país onde os olhos de todo o mundo estão voltados para cá, para as nossas riquezas”, afirmou Jonas Duarte. O professor fez uma análise sobre a conjuntura política brasileira, destacando os avanços nas políticas públicas após eleição de governos progressistas a partir de 2002 e o acelerado e gradativo desmonte dessas políticas após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2016.
O programa Um Milhão de Cisternas, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa de Alimentação Escolar – PNAE são exemplos de algumas políticas públicas conquistadas e melhoradas. “Antes da cisterna eu pegava água num açude. Acordava 3h30 da manhã, deixava os meninos com minha mãe e saia a pé pra pegar água. A gente carregava um bujão pesado na cabeça, eu lembro que com 12 anos já fazia isso. Hoje eu tenho minha cisterna no quintal de casa. A cisterna diminuiu nosso sofrimento”, disse a agricultora Márcia da Silva, da comunidade Bernardo, município de Aroeiras.
A agricultora Maria José dos Santos, do município de Mogeiro, contou que a filha vende couve na Feira Agroecológica e está finalizando o curso técnico de enfermagem com a renda dos produtos vendidos na feira. “Tudo que ela vende é produzido com a água da nossa cisterna calçadão e minha filha sempre me diz: ‘Mãe, o que eu puder fazer pra senhora permanecer na terra, eu vou fazer e mesmo eu tendo que sair pra estudar, eu volto’, e essa consciência ela foi aprendendo nas formações do Folia e da ASA (…) lá em casa a gente já está debatendo sobre que candidaturas a gente vai apoiar para que possamos ter uma vida melhor na agricultura ”, explica Maria José.
O professor reforçou como os cortes nas políticas públicas para a agricultura familiar e as reformas trabalhista e previdenciária têm prejudicado a população rural e urbana. Levantou dados sobre a volta da fome no país, o aumento dos preços dos alimentos, o aumento do preço da gasolina e ainda a violência contra as mulheres que se agravou muito no atual governo.
Patrícia Sampaio, assessora técnica do CENTRAC, falou sobre a importância da comunidade estar atenta ao Poder Legislativo, buscando eleger representantes que tenham uma trajetória de compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras do campo e ao mesmo tempo identificando e denunciando quem atuou contra os direitos da população. O sócio do CENTRAC, Claudionor Vital, enfatizou que “o processo impeachment teria sido impedido se houvesse um Congresso aliando aos interesses do povo trabalhador. O orçamento para a agricultura familiar, por exemplo, é quase zero. Vamos precisar de pelo menos um ano para reconstruir as políticas públicas que perdemos”.
Outro ponto discutido foi a necessidade de organização e mobilização dos movimentos sociais durante e após o processo eleitoral para propor, discutir e validar a execução das políticas públicas. “O atual governo destruiu as instâncias de diálogo com a sociedade civil e com os movimentos sociais, por isso precisamos eleger um governo que dialogue e se proponha a ouvir os movimentos sociais e as entidades da sociedade civil”, afirmou a coordenadora do CENTRAC, Socorro Oliveira.
Ao término do encontro, o Folia assumiu como compromisso para as eleições de 2022, buscar comprometer as candidaturas com as pautas da agricultura familiar – aquelas elencadas na Carta da ASA Brasil – e ser um agente de multiplicação e transformação social, levando este debate para as comunidades.
O evento foi realizado na sede do CENTRAC em Campina Grande e contou com o apoio de Misereor, CCFD – Terre Solidaire e da Plataforma Mercosul Social e Solidário (PMSS).