Famílias agricultoras do Assentamento Dom Marcelo, município de Mogeiro -PB, tem aproveitado as chuvas na região para multiplicar suas sementes crioulas (da paixão) nos Campos de Multiplicação de Sementes Comunitário, com o objetivo de produzir sementes de variedades crioulas para o abastecimento e manutenção do Banco de Sementes Comunitários (BSC) e para favorecer a autonomia e a soberania alimentar e nutricional de suas famílias.
A gestão dos campos comunitários tem sido realizada pelas famílias que integram o BSC do Assentamento. Em um campo, as famílias realizaram um plantio diversificado, com quiabo roxo, duas variedades de maxixe, abóbora, coentro e milho. No outro campo, fizeram o plantio da semente do amendoim. As sementes plantadas são oriundas do Banco de sementes comunitário e familiar.
O grupo plantou cerca de 1 hectare de amendoim (5 sacos) no campo comunitário. A agricultora Lindalva Oliveira, que é uma das gestoras do campo, conta que o amendoim é uma cultura muito rica na região de Mogeiro. “A gente percebeu como o amendoim se adaptou fácil na nossa região. Ele é muito rápido, com três meses estamos lucrando. Então a gente passou a plantar”, afirmou. Observando a potencialidade do amendoim, o grupo decidiu fazer o resgate da semente e há alguns fazem a conservação.
A previsão é de que a colheita do amendoim seja de 1 tonelada. Uma das estratégias adotadas pelos integrantes, é que parte da colheita seja vendida para ampliar o campo de multiplicação e gerar renda para as famílias, uma forma de consolidar essa estratégia de economia solidária no Assentamento.
Quintais agroecológicos como espaço de multiplicação de sementes
Os quintais agroecológicos também têm sido espaços de multiplicação das sementes crioulas gerido pelas mulheres e de geração de renda, assim como os campos de multiplicação de sementes familiares.
A agricultora Lindalva tem no seu quintal uma diversidade de plantas frutíferas, de espécies forrageiras, medicinais e ornamentais e também a criação de pequenos animais. Os alimentos produzidos servem para o consumo da família e também para a geração de renda. A família acessou, nos anos de 2018 e 2019, os Programas de compras institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa de Alimentação Escolar (PNAE) com a venda do roçado de batata doce, macaxeira e milho. “Esse ano não tivemos batata suficiente porque, nos dois anos de pandemia, a produção foi pouca por conta da seca. Mas vamos ter batata na mesa esse ano, pra família”, afirmou Lindalva.
A agricultora Maria José Rodrigues também faz parte da gestão do campo comunitário. E no seu quintal tem se dedicado ao resgate e multiplicação das sementes crioulas ornamentais e medicinais, cultivadas com a água da cisterna calçadão. “Tenho cidreira, capim santo, saião, penicilina, hortelã e, se eu pudesse, tinha todas as plantas medicinais”, disse Maria José, afirmando que todo remédio que precisa está no quintal de casa.
A agricultora fez o resgate da semente flor boa noite, que era uma semente que sua avó costumava plantar no arredor de casa. Maria José conseguiu duas mudas com uma amiga e agora vem conservando.
“Os campos de multiplicação comunitários, familiares e os quintais agroecológicos têm favorecido a autonomia das famílias agricultoras, conservação das sementes crioulas, do patrimônio genético e dos saberes associados a essas sementes, que são passados de geração em geração entre as famílias camponesas”, afirmou a assessora técnica Madalena Medeiros.
Essas ações de multiplicação de sementes fazem parte da “Campanha Multiplique Sementes Crioulas: Conserve Memórias no mundo”, uma iniciativa do Centrac juntamente com o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) como estratégia de enfrentamento às crescentes ameaças às sementes da paixão e conta com o apoio de Misereor.