Na última sexta-feira, 12 de maio, foi realizada uma visita de intercâmbio à propriedade da família do agricultor Marcos Elói, no Assentamento José Antônio Eufrouzino, em Campina Grande-PB, para conhecer suas experiências e estratégias de convivência com o Semiárido. A atividade contou com a participação de famílias agricultoras do assentamento e a assessoria do Centro de Ação Cultural – CENTRAC.
Foi apresentada uma linha do tempo da família na agricultura, os avanços e desafios desde a chegada na terra, no ano de 2007, e como as tecnologias sociais e o acesso às políticas públicas contribuíram para a melhoria de vida da família e para a permeância no campo. Marcos contou que nesta época a casa tinha somente uma cisterna de água para beber, mas hoje já possuem mais dois reservatórios de estocagem de água, uma cisterna calçadão, beneficiada através do Programa P1+2 e do Centro de Ação Cultural – CENTRAC e uma cisterna comunitária de 16 mil litros, construída pelas famílias assentadas e abastecida pela Operação Carro Pipa.
Em um passeio pela propriedade, o grupo observou o Reuso de água, o Barramento de Base Zero e o Sistema Agroflorestal (SAF), tecnologias sociais que a família adquiriu através do Projeto “Fortalecendo Sistemas Alimentares com Mulheres no Semiárido Paraibano”, com apoio de Manos Unidas. No SAF, tem cultivado 21 espécies de plantas nativas, forrageiras, frutíferas, hortaliças, plantas medicinais, roçado e gramíneas. Esse sistema consorciado, vem contribuindo com a recuperação do solo, conservação da biodiversidade e com a multiplicação de suas sementes crioulas, vegetais e animais.
O agricultor também tem multiplicado a semente de palma, que ganhou de um amigo vizinho no ano que se mudou para a propriedade. “Eu não me esqueço nunca desse dia. Não tinha dinheiro pra comprar um milheiro de palma, as vezes saia catando na estrada. Por isso que hoje eu guardo essa palma com tanto cuidado, venho conservando todos esses anos”, disse Marcos.
No período de estiagem, a estratégia da família é se dedicar a criação de pequenos animais. Atualmente criam galinhas de capoeira, ovelhas, porcos e gado. Com as fezes suínas, conseguem manter o funcionamento do Biodigestor, uma tecnologia social que produz gás de cozinha e matéria orgânica para o solo. “Deixamos de ser escravos do botijão de gás. Sempre tem gás de cozinha e não precisa de muito esterco, eu mantenho o biodigestor com apenas três porcos”, afirmou.
O agricultor participa de diversos espaços comunitários, como o Fundo Rotativo Solidário, o Banco Comunitário de Sementes, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Campina Grande, o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), Sindicato da agricultura familiar, localizado em São José da Mata, distrito de Campina Grande, e participa das atividades religiosas do Assentamento. Ao participar desses espaços tem contribuindo com a melhoria de vida da família e da comunidade.
A agricultora Graça Januário é vizinha da família e participou do intercâmbio. Ela conta que momentos como esses são muito importantes. “Conhecer a propriedade de um vizinho e saber o que ele tem desenvolvido nela. Isso serve de inspiração pra gente também fazer e melhorar na nossa propriedade”, disse Graça.
A assessora técnica do CENTRAC, Madalena Medeiros, reforçou a importância da diversidade na produção e como essa estratégia contribui para a melhoria do ecossistema e da segurança alimentar da família e dos animais. “Quando a gente planta uma espécie forrageira, a gente melhora não só o a paisagem, mas o sistema alimentar dos animais também, como a gliricidia, a leucena, o girassol mexicano, a moringa, a maniçoba, entre outras”, reforçou. De acordo com Madalena, a gliricidia tem 18% de proteína, superior ao milho que tem 9%. Além disso, são plantas que não exigem tanta água para o seu desenvolvimento, ideal para a região semiárida.