“A segunda água vai ajudar na criação dos animais lá de casa. Temos gado, galinha de capoeira, porcos e a água vai ajudar na limpeza deles também. Eu já tenho o reuso de água, mas com a cisterna vou poder produzir minhas hortaliças”, contou a agricultora Eliara Deyse Almeira, do Assentamento Pequeno Richard, em Campina Grande, durante a Formação sobre Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA), do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
O foco da família é a criação animal e a comercialização. No período de estiagem, Eliara conta que tem dificuldade para dar água aos animais. Os açudes secam e a água de poço é salgada. A cisterna chega para fortalecer a produção de alimentos e a soberania alimentar da família.
A formação do GAPA aconteceu de 20 a 22 de março, reunindo as famílias beneficiárias do P1+2 dos Assentamentos José Antônio Eufrouzino, Pequeno Richard, Quebra Quilo e Vitória. No total, serão 63 famílias beneficiadas em Campina Grande pelo Programa, com as cisternas de enxurrada e calçadão e barragens subterrâneas.
Durante a atividade, foram discutidas as estratégias de gerenciamento de água para fortalecer a agricultura familiar de base agroecológica e as ações de convivência com o Semiárido. Também houve debates sobre a justa divisão do trabalho doméstico e na propriedade.
A agricultora Valquíria dos Santos, do Assentamento José Antônio Eufrouzino, também participou da formação e contou que com a chegada da cisterna vai poder produzir hortaliças para o consumo da família e para a comercialização. Além da cisterna de água de beber, ela tem um fogão agroecológico e um tanque de placa, implementado pelo Centro de Ação Cultural – CENTRAC.
Também houve uma visita de intercâmbio à propriedade do agricultor Marcos Eloi, para conhecer de perto as estratégias de convivência com o Semiárido que ele vem desenvolvendo junto com família. “Antes das cisternas chegarem, eu carregava água do barreiro com uma burrinha que eu tenho. Quando chegava a hora de pegar a água, até ela já se escondia porque sabia que o rojão era grande”, disse Marcos.
Ele reforçou que o conjunto de tecnologias sociais, como as cisternas, o biodigestor, o sistema de reuso de água, entre outros, tem contribuído para a convivência com o semiárido, fortalecendo suas estratégias e o manejo agroecológico. Agora, no período de estiagem, a família tem água para beber, para cuidar dos animais e para produzir alimentos.
Durante a atividade, as famílias puderam tirar dúvidas sobre a implementação das cisternas e receberam alguns materiais informativos sobre os cuidados que devem ter com a água.
Além disso, foi realizado um diagnóstico comunitário com a construção do mapa de cada Assentamento, com o objetivo de identificar fatores que favorecem a trajetória da comunidade, os fatores que limitam o desempenho técnico, produtivo, social, ecológico e econômico e as principais potencialidades.
Ao término da oficina, foi apresentada a campanha Multiplique Sementes Crioulas: Conserve Memórias no Mundo, do CENTRAC. Objetivo é incentivar a multiplicação, a doação, a troca e a conservação das sementes da paixão (crioula) no território do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia).
Sobre o P1+2
O P1+2, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA BRASIL), tem como objetivo atuar na captação de água de chuva para a produção de alimentos pelas famílias da zona rural. Promovendo a segurança alimentar e a geração de renda com a utilização sustentável da terra e o manejo dos recursos hídricos para a produção de alimentos, animal e vegetal.
Depois de mais de 7 anos de desmonte das políticas públicas de convivência com o Semiárido, o Programa Cisterna retorna com a construção de mais de 50 mil cisternas em 10 estados do Semiárido Brasileiro, garantindo água e fomento para fortalecer a produção agroecológica no Semiárido.