Você sabe de onde vêm os alimentos que coloca à mesa? Em um mundo cada vez mais impactado pelas crises climáticas e pela exposição a alimentos ultraprocessados e contaminados por agrotóxicos, garantir o acesso a alimentos saudáveis é um desafio diário para muitas famílias brasileiras. Com o aumento de doenças relacionadas à má alimentação e o uso abusivo de agrotóxicos na agricultura, a discussão sobre a origem e a qualidade dos alimentos nunca foi tão urgente. Nesse cenário, o Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, se torna uma oportunidade para a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) convidar a sociedade de Campina Grande a refletir sobre a necessidade de consumir alimentos agroecológicos, em sintonia com o tema “Direito aos Alimentos para uma Vida e um Futuro Melhores”, proposto pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
Cerca de 80 feirantes se reuniram na Praça da Bandeira para mais uma edição da Feira Regional Agroecológica, um evento que, desde 2018, se consolida como espaço de diálogo e celebração da produção de alimentos livres de agrotóxicos e transgênicos. A feira valoriza o trabalho das famílias agricultoras dos territórios que compõem a ASA Paraíba, promovendo tanto a comercialização desses alimentos quanto o debate sobre a agroecologia como caminho viável para a saúde das pessoas e do planeta.
Betânia Buriti, do grupo de trabalho de comercialização da ASA, destacou a importância da feira para as comunidades rurais e para a sociedade. “Todo mês de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Alimentação. As famílias agricultoras não produzem apenas para se alimentar, mas também para alimentar a população. Essa feira é uma oportunidade de trazer essa produção para a cidade, mas, durante o ano, também são realizadas pequenas feiras nos municípios”, comentou.
A diversidade dos alimentos expostos chamou a atenção de quem passou pela Praça. Luiz Santana, agricultor de Arara, território da Borborema, trouxe para sua barraca uma variedade de itens como massa de mandioca, amendoim e goma. A juventude do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) também marcou presença, ofertando ovos de capoeira, pimentas, manteiga da terra, fubá e doces caseiros. Agricultoras do Cariri, território do Coletivo, trouxeram artesanatos, frutas, geleias e feijões, mostrando que a agroecologia também valoriza a cultura local.
Shirleyde dos Santos, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, reforçou a importância de promover uma alimentação saudável e livre de venenos: “A gente quer comida que nos traga saúde, não veneno. Hoje, temos alimentos cheios de agrotóxicos que trazem doenças. Além disso, estão acabando com nossas sementes, nossa história. Precisamos lutar por uma alimentação de verdade, livre de agrotóxicos e cheia de vida.”
Maria do Socorro Oliveira, da coordenação da ASA Paraíba, também ressaltou o papel da agroecologia na garantia do direito à alimentação. “Não é só uma feira, é um momento de reflexão. O que fazemos em nossos territórios é agroecologia, é a defesa do direito aos alimentos. Estamos aqui para debater isso com a sociedade”, afirmou.
Além da comercialização de alimentos, mudas de plantas ornamentais, medicinais, cosméticos naturais e artesanato, a feira ofereceu atividades culturais e educativas, como exposições de cartazes e herbários feitos por estudantes de escolas rurais de Campina Grande. Houve ainda uma exposição de banners que denunciavam o uso abusivo de agrotóxicos e as crises climáticas, reforçando a alimentação como um direito humano fundamental. Um dos destaques do evento foi o teatro de bonecos “O Mistério das Torres”, que tratou dos impactos dos megaprojetos de energia eólica e da importância da agroecologia como solução para a fome e a crise ambiental.
O momento também contou com falas de representações do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea PB) e da Secretaria Executiva de Segurança Alimentar e Economia Solidária (SESAES), do Governo do Estado.
A Feira Regional Agroecológica foi organizada pelo GT de comercialização da ASA Paraíba, Fórum Paraibano de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FPBSSAN) e Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea PB), em parceria com o Núcleo de Extensão Rural (NERA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e com o apoio de organizações de cooperação internacional como Misereor, CCFD Terre Solidaire e Manos Unidas.