Durante três dias, famílias agricultoras das comunidades Castelo, Capim Grande e Assentamento José Antônio Eufrozino, em Campina Grande (PB), participaram do curso de Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA), do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
A formação, realizada de 23 a 25 de abril, pela equipe do Centro de Ação Cultural – CENTRAC teve como objetivos: visibilizar as ações da Articulação do Semiárido (ASA) de convivência com o Semiárido, resultado da experiência acumulada pelos agricultores e agricultoras familiares; fortalecer o manejo da água para produção de alimentos vegetais e animais de forma agroecológica, como estratégia de segurança alimentar e nutricional; e reafirmar a agroecologia como modelo de desenvolvimento rural mais resiliente, solidário e comprometido com a construção do bem viver. Também foi enfatizado que a superação das desigualdades de gênero é essencial para a justiça social e para a distribuição equilibrada da riqueza.
Durante o curso, foi reforçada a identidade do FOLIA (Fórum de Lideranças do Agreste), representada pela formiga — símbolo da união, do trabalho em equipe e da força coletiva, elementos fundamentais para a agroecologia. “Nós temos que olhar para a natureza e aprender com ela, como faz o umbuzeiro, que guarda água para sobreviver na seca, e como as formigas, que estocam alimentos para enfrentar o inverno. A formiga ainda presta um trabalho ambiental contribuindo para saúde dos ecossistemas e ajudando também na aeração dos solos”, destacou Madalena.
No primeiro dia, foi discutido o ciclo da água, evidenciando como cada etapa é essencial para a renovação e manutenção desse bem comum na natureza e no entorno das casas. Também foram abordados temas como a origem da ideia de estocar água em cisternas e as principais ações desenvolvidas nas comunidades de convivência com o Semiárido. Além disso, houve um debate sobre a divisão social, racial e sexual do trabalho, refletindo sobre como a opressão de um grupo sobre o outro limita o desenvolvimento e a vida das pessoas, ressaltando que essas desigualdades são construções sociais, e não naturais.
No segundo dia, o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) esteve presente para dialogar com as famílias sobre métodos de estocagem de forragem e práticas de sanidade animal, já que muitas famílias têm na criação dos animais uma importante estratégia associada à segurança alimentar e nutricional.
Amanda Barbosa, agricultora do sítio Capim Grande e futura beneficiária de uma cisterna calçadão, destacou a importância das discussões sobre sanidade animal. “Eu crio suínos e aprendi muita coisa sobre vacinas e alimentação que eu não sabia. Descobri, por exemplo, como substituir a soja da ração pela raspa de mandioca”, contou. Com a chegada da cisterna, Amanda pretende ampliar as pocilgas da propriedade.
A participação do INSA foi fundamental, especialmente porque os recursos do fomento irão estruturar os quintais produtivos, com um foco importante no fortalecimento da criação animal na região.
No terceiro dia, a equipe do CENTRAC discutiu sobre o processo de armazenagem de forragem. Foi apresentada uma tabela nutricional com diversas plantas forrageiras, destacando seu potencial para a alimentação animal. Antônio Carlos, técnico do CENTRAC, ressaltou a importância da diversidade alimentar: “Nem só de milho se cria. O farelo de girassol mexicano e o de gliricídia, por exemplo, são excelentes para cavalos, galinhas, cabras… Mas é preciso saber como oferecer, misturando com outros alimentos. O manejo correto é que faz a diferença”, explicou.
Jaqueline Galdino, agricultora do assentamento, celebrou a chegada da tecnologia social: “A cisterna calçadão vai melhorar 90% do nosso trabalho e do acesso à água. Com a cisterna, vou poder ter uma horta e plantar fruteiras. Já consegui mudas de banana prata e banana maçã, e vou poder usar a água da cisterna para irrigá-las”, comemorou.
Jaqueline já pratica o reuso de água em sua propriedade: a água da pia é utilizada para irrigar um pé de acerola, e a água do banho é reaproveitada no quintal. Quando sua cisterna de água para beber seca, ela busca água na cisterna comunitária do assentamento ou no tanque de pedras comunitário.
Durante a formação, também aconteceu o Terreiro do Brincar com as crianças, filhas e filhos das agricultoras presentes. Trata-se de uma metodologia utilizada pelo CENTRAC para envolver as crianças nos processos de formação de forma lúdica, por meio de colagens com sementes, desenhos e jogos relacionados à temática da agroecologia.