Durante os dias 20 e 21 de setembro, 45 trabalhadoras domésticas de sindicatos da categoria ligados à Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), de sete estados do Nordeste (PB, PE, PI, AL, MA, BA, SE), estiveram reunidas no “I Curso de Formação das Trabalhadoras Domésticas do Nordeste”. O curso foi realizado pelo Centro de Ação Cultural (CENTRAC) em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e com o apoio da FENATRAD, do Fundo Brasil de Direitos Humanos e da Associação das Trabalhadoras Domésticas de Campina Grande.
A programação foi aberta com a acolhida e as boas vindas. Em seguida, foi feita uma dinâmica de apresentação onde as participantes se reuniam em dupla e cada uma apresentava a outra e lhe confeccionava um crachá. Após isso, foi dado início a um momento de conversa em grupos onde cada mulher falou sobre como é o seu dia-a-dia, seus desafios e depois socializou em plenária. “O nosso dia-a-dia é muito parecido, temos os mesmos problemas e sofrimentos. Comecei a trabalhar com 12 anos, dessa idade já cuidava de três crianças. Imagine, uma criança cuidando de outras três! Tenho 44 anos no trabalho doméstico e enquanto eu viver, tô na luta para que outras mulheres não passem pelo que passei”, disse Angela Maria da Silva, trabalhadora doméstica e integrante da diretoria do sindicato de Recife-PE. Aldenora Rodrigues, trabalhadora doméstica do Maranhão, falou sobre a dificuldade que é não ser reconhecida como uma trabalhadora normal e ter seus direitos previdenciários respeitados: “Estou com 60 anos e não tenho como me aposentar porque minha patroa me negou este direito por 11 anos”, desabafou a trabalhadora.
O curso foi facilitado pela assistente social e educadora, Verônica Ferreira, que é também pesquisadora do Instituto SOS Corpo de Recife-PE, integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). Verônica comentou o que foi dito nos depoimentos: “Ouvindo cada uma de vocês a gente percebe o quanto a nossa situação de trabalho tem a ver com a nossa condição de mulher. Pois quando a gente vem participar de um encontro como este é uma dificuldade, ter que deixar nossas casas, pois o trabalho que a gente faz dentro de nossas casas não é dividido. Além disso, o trabalho que a mulher faz dentro da casa não é valorizado e essa desvalorização acompanha o trabalho que a gente faz fora de casa”.
No período da tarde, as participantes debateram sobre o tema: “Problemas das mulheres no mundo do trabalho e divisão sexual, social e racial do trabalho”. Usando o símbolo de uma árvore de papel, elas foram discutindo e montando o que seria a sociedade em que vivem e os vários problemas que enfrentam. O patriarcado, o racismo e o capitalismo foram simbolizados pelas ‘raízes’. Já os galhos são as dificuldades no acesso a políticas públicas que geram as ‘folhas’ com as questões mais
específicas do seu cotidiano como a falta de creches para seus filhos, a sobrecarga de trabalho, a dupla ou tripla jornada e a negação de direitos. “A nossa luta é por reduzir os níveis de exploração. A ampliação dos direitos não termina a exploração, pois enquanto ainda houver uma classe que explora outra, sempre vai existir exploração. A formação política nos ajuda a questionar a ordem, de questionar porque as coisas são como são e nos encoraja a lutar”, disse Verônica Ferreira.
A programação do primeiro dia terminou com um debate sobre o filme: “As Sebastianas”. Produzido pelo SOS Corpo, o vídeo mostra os desafios das mulheres no mundo do trabalho e de que forma elas tem se organizado para enfrentar esses desafios.
No segundo dia, mais uma vez reunidas em grupo, as participantes do curso foram provocadas a registrar em targetas momentos marcantes da luta das trabalhadoras domésticas por direitos ao longo de uma trajetória de mais de 80 anos. Foram citados a criação das primeiras organizações de trabalhadoras domésticas, a conquista da carteira assinada e direitos previdenciários e mais recentemente a luta pela Emenda Constitucional 72, que ampliou direitos para a categoria. A apresentação das conquistas citadas foi feita a partir da vivência de luta das trabalhadoras, haja vista, as diferentes gerações da categoria presentes no curso terem participado ativamente dos momentos de conquistas citados, a nível local, nacional e internacional.
Após a linha do tempo, foi feito um debate. Simulando um programa de Rádio apresentado pela facilitadora do curso e tendo como convidadas duas trabalhadoras domésticas representantes de sindicatos e da FENATRAD, as participantes interagiram na forma de perguntas direcionadas às entrevistadas do programa de rádio. Na segunda metade da tarde as trabalhadoras se dividiram por estado e discutiram as suas formas de organização. O encontro foi encerrado às 16h com uma ciranda.