Um grupo de 25 lideranças de cerca de 10 comunidades rurais do município de Aroeiras, no Agreste da Paraíba, inaugurou no dia 03 de março, o primeiro Viveiro de Mudas Municipal. O viveiro irá funcionar na Comunidade Ladeira do Chico, e na inauguração foi realizada uma oficina de rearborização com o grupo de novos viveiristas. O município está inserido no Fórum de Lideranças do Agreste (FOLIA), dinâmica territorial integrante da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-Paraíba) e a implantação do viveiro foi uma demanda das comunidades apoiada pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), desenvolvido pelo Centro de Ação Cultural – CENTRAC com apoio da Fundação Banco do Brasil (FBB).
Participaram da oficina 25 agricultoras e agricultores das comunidades Bernardo, Chá da Barra, Uruçu, Juá, Massaranduba, Piabas, Umari e Chá dos Costas. A formação foi facilitada pelas agricultoras viveiristas da Rede de Viveiros do Polo da Borborema, Jarcira Oliveira, do município de Queimadas, e Maria da Penha Batista, de Solânea. Também acompanhou a oficina, Cleibson Santos, assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que assessora o trabalho da Comissão de Cultivos Agroflorestais do Polo.
A oficina foi realizada na casa dos agricultores Marilene Lopes da Silva Souza e Severino Mendes de Souza, conhecido como “Raminho”. A programação
foi iniciada com a apresentação dos participantes, em seguida, eles foram provocados com a seguinte questão: “que benefícios as árvores trazem para a as nossas vidas?”. Houve então uma rodada de debate, de onde saíram uma série de funções que as árvores cumprem nas propriedades, entre elas o reflorestamento, a conservação do solo, as frutas, a moradia para os animais, a sombra, o barra-vento, a madeira e as estacas, os remédios e alimento para os animais, entre outras.
Cleibson Santos ressaltou a importância das árvores no controle biológico dos sistemas agrícolas e na conservação da cadeia alimentar, pois as árvores servem de morada para diversos animais, que se alimentam de insetos, que, ao perderem o seu meio ambiente, tendem a migrar e gerar um descontrole de pragas: “Muitas vezes a gente tende a achar que a causa do problema está longe de nós, mas precisamos olhar para toda uma cadeia, a exemplo do gavião, que se alimenta da cobra, que já se alimenta do sapo, que come os insetos, e aumentando a população de insetos, eles irão buscar alimentos onde? Nas hortas e plantações. Então a culpa é de quem derruba a mata”, exemplificou.
Maria de Lourdes Gomes de Sena mora na comunidade Chá da Barra, ela disse que o desmatamento é frequente na sua região, o que tem gerado muitos prejuízos: “Os meus vizinhos colocam é máquina pra derrubar os juazeiros. Sempre eu penso: ‘pra quê isso?’. As pessoas pensam que o castigo de Deus vai vir como se fosse um pau pra dar na gente, vem não, vem no silêncio, com essa falta de chuva que tá por aí”, afirma a agricultora.
Após esse momento, Maria da Penha e Jarcira Oliveira, falaram sobre a experiência da rede de viveiros de sua região, que começou com apenas um viveiro e hoje já são sete, inclusive com uma rede de coletores e coletoras de sementes articulada e envolvendo jovens. Também foi frisado o tamanho do desafio que é manter um viveiro funcionando, uma iniciativa que, para funcionar bem, depende do esforço e da força de vontade coletiva. Aspectos a serem considerados como a escolha do local, a seleção das sementes, o planejamento sobre quais espécies se deve plantar e o porquê de cada escolha, foram ressaltados durante a oficina.
Madalena Medeiros, assessora técnica do Centrac, lembrou que nos momentos de preparação para a implantação do viveiro, o grupo fez momentos de formação, onde discutiram e avaliaram quais eram as espécies que mais se adaptavam às condições de solo e clima da sua região, para planejarem bem o que deviam plantar: “Foram levantadas e selecionadas aquelas plantas que mais estavam resistindo à seca, que permaneciam cumprindo a sua função, mesmo em um momento crítico, por isso hoje os agricultores já trouxeram as sementes que guardaram”, frisou.
A programação foi encerrada com uma parte prática, onde os participantes encheram sacos de mudas e aprenderam técnicas de como plantar cada tipo de espécie, medicinal, frutífera e nativa. Os viveiristas tiraram ainda um calendário de encontros, quando darão continuidade ao trabalho de plantio de mudas para estar com um bom estoque no momento certo de plantar, quando as chuvas chegarem.