Entre os dias 22 e 23 de abril, aconteceu em Campina Grande o 10º Encontro Nacional de Fé e Política, promovido pela Diocese de Campina Grande, pelo Movimento Nacional Fé e Política e pela Cáritas Diocesana. O evento aconteceu na Universidade Federal de Campina Grande e reuniu cerca de mil participantes de vários estados brasileiros.
Na tarde do segundo dia de evento aconteceram diversos grupos temáticos que refletiram sobre uma variedade de temas da atualidade. A equipe técnica do Centro de Ação Cultural (CENTRAC) foi convidada a debater dois dos temas: “Agroecologia, Sementes e Segurança Alimentar” e “Juventudes e Transformação Social”. Madalena Madeiros, engenheira agrícola e coordenadora do Programa Desenvolvimento Sustentável, contribuiu com o debate do primeiro tema e Ana Patrícia Sampaio, socióloga e coordenadora do Programa Juventude e Participação Política foi uma das debatedoras do segundo tema.
Ana Patrícia, Janaína Sales da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) e Ronilson Pacheco da Ong Viva Rio foram os debatedores da temática “Juventudes e Transformação Social”. O GT reuniu um número expressivo de jovens, representantes de organizações de defesa dos direitos das juventudes e militantes de diversos partidos e organizações sociais.
Em seu fala, Ana Patrícia fez uma leitura das conquistas à partir da intervenção das juventudes organizadas, que tiraram os jovens, antes vistos como problema, para uma condição de sujeitos de direitos. Ela fez referência a um arcabouço legal que reconhece o papel e a contribuição das juventudes como sujeitos de transformação social, a exemplo da PEc da Juventude, da criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Estatuto da Juventude: “Precisamos partir de uma análise das mudanças que ajudaram a determinar o que é ser jovem, não é a toa que se propaga que a juventude ‘não quer saber de nada’. A participação da juventude deve ser vista como um importante instrumento de acesso à cidadania e eu acredito que ela está atualmente envolvida e engajada na transformação, embora em muitos casos não seja vista”, afirmou.
Madalena Medeiros facilitou o diálogo do GT Agroecologia, Sementes e Segurança Alimentar, ao lado de Rejane Alves, assessora pedagógica da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) e também integrante da Rede de Sementes da ASA PB. As duas falaram sobre a experiência do trabalho de fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica que as organizações da ASA vem desenvolvendo em sete territórios no estado, incluindo o tema das “Sementes da Paixão”, que são como ficaram conhecidas na Paraíba as sementes nativas, cultivadas e conservadas pelas famílias agricultoras há centenas de anos.
Questionada se acreditava que a agroecologia poderia se firmar enquanto modelo hegemônico para a produção de alimentos no país, Madalena Medeiros respondeu: “Há 200 anos os negros eram açoitados no tronco e quem ousasse questionar e propor outro modelo, era rechaçado. É preciso acreditar, é preciso resistir. Na maior seca dos últimos anos a gente viu feira agroecológicas sendo criadas, então porque eu não vou acreditar? A mídia, aliada ao agronegócio todo dia nos vendem a mentira de que não é a agricultura familiar quem coloca comida na mesa dos brasileiros, a gente precisa desconstruir isso”, disse.
Leia a carta política do 10º Encontro Nacional de Fé e Política:
Se também você compreendesse hoje
o caminho da Paz! (Lc. 19, 42)
Nós, participantes do 10º Encontro Nacional de Fé e Política, viemos a público para afirmar nossa rejeição ao golpe que está sendo executado por forças antidemocráticas e antipopulares. Não aceitamos que essas forças tomem o governo federal contrariando a vontade nacional expressa nas eleições de 2014, assim como rejeitamos o modelo econômico baseado na restrição dos direitos trabalhistas, dos programas sociais e da soberania nacional.
A votação da Câmara Federal do dia 17 de abril foi uma fraude patrocinada por pessoas corruptas e pela grande mídia, porque ficou evidente não haver crime de responsabilidade cometido pela presidenta Dilma Rousseff. Repudiamos as declarações de deputados e deputadas que usaram o nome de Deus e citações da Bíblia para justificar seu apoio à ruptura constitucional.
Conclamamos as forças democráticas e populares a se manifestarem publicamente em defesa do Estado de Direito. Comprometemo-nos a nos unir a todos os movimentos e entidades do campo democrático participando da jornada contra o golpe no dia 1º de maio.
Neste momento difícil, seremos coerentes com os princípios éticos que devem guiar a ação política.
As águas da Solidariedade e as sementes da Esperança nos firmam nesse compromisso!
Campina Grande – PB, 24 de abril de 2016.