Paixão pelas sementes tradicionais é motivo de festa na PB

Publicado por swadmin
Campina Grande, 11 de março de 2010

Mais de 1.400 pessoas são esperadas para esta quinta edição da Festa da Estadual da Semente da Paixão, que será realizada nos dias 18 e 19 de março. Com o tema Guardiões da semente da paixão: em defesa da agricultura familiar camponesa, o evento organizado pelas entidades que compõem a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) reunirá agricultores e agricultoras de todas as microrregiões da Paraíba: Alto e Médio Sertão, Curimataú, Cariri, Agreste e Litoral.

 

A ocasião é de resgate e valorização da importante contribuição das famílias camponesas para a diversidade das sementes, moedas de um patrimônio genético que por séculos foi cultivado, selecionado, aprimorado e ajustado às realidades ecológicas locais e às preferências culturais. A festa é o momento de reverenciar esse incessante processo de estudo e seleção, que sem dúvida concede autonomia às famílias no uso de suas sementes, na produção de alimentos e na geração de riquezas.

 

A realização da festa é ainda de enorme relevância em função da atual conjuntura, em que os riscos de contaminação e de erosão genética desse patrimônio aumentam, seja pela liberação de variedades comerciais de milho e de algodão transgênico ou pela distribuição de poucas variedades de sementes pelos programas governamentais, o que gera a indesejável homogeneização.

 

Foi diante desse contexto que a ASA Paraíba decidiu dividir o encontro em dois momentos. No primeiro dia, 18 de março, em Lagoa Seca, cerca de 200 agricultoras e agricultores participarão de uma oficina de formação, que tem como objetivo abrir um espaço para a construção coletiva de uma critica ao conjunto de forças e fatores que ameaçam a agrobiodiversidade e a autonomia das famílias agricultoras. Nesta edição, o foco será os efeitos da introdução dos transgênicos no Mundo e no Brasil, com ênfase no impacto sobre o semiárido. Por meio de um mapeamento do trabalho realizado junto a famílias guardiãs das sementes, será feita uma avaliação e seleção das melhores variedades locais de milho.

 

Também será tema de debate e reflexão o conjunto das políticas de sementes incidentes sobre o semiárido. A ideia é elaborar estratégias comuns para enfrentar essas ameaças a partir de trabalhos em grupos representando cada região. Ao final, os grupos socializarão as propostas que servirão de base para definir prioridades para 2010.

 

O coordenador da AS-PTA na Paraíba, Luciano Silveira, expõe os principais objetivos do evento: A importância de momentos como esse é fazer com que as famílias agricultoras resgatem e valorizem seu papel de guardiãs de um vasto patrimônio genético, que está sendo ameaçado por uma campanha para a disseminação de variedades transgênicas no País. Ao optarem por práticas agroecológicas e de preservação das sementes tradicionais, essas famílias formam um movimento de resistência em defesa da agricultura familiar camponesa, que luta por um modelo de desenvolvimento mais justo e ambientalmente sustentável. Prova disso, é o número de bancos de sementes familiares e comunitários que não para de crescer em toda a Paraíba, o que garante maior autonomia às famílias, que não precisam ficar comprando sementes e outros insumos a cada safra.

 

No dia seguinte, 19 de março, em Campina Grande, será celebrado por todos os participantes da festa o dia de São José, aguardado com ansiedade e devoção por agricultoras e agricultores de todo o semiárido paraibano por ser o prenúncio do inverno. Nesse dia, procuram o céu para ver se o tempo será seco, nublado, chuviscado ou molhado, elementos fundamentais do cálculo da meteorologia tradicional para saber se as chuvas virão em abundância ou não. E, depois de ler o tempo, as famílias agricultoras de todo Nordeste plantam o milho no dia de São José para comemorar a safra no dia de São João.

 

A data do padroeiro não poderia ser mais propícia para realizar a caminhada Em defesa da Agricultura Familiar Camponesa: por uma Paraíba Livre de Transgênicos e Agrotóxicos. Durante a marcha, serão distribuídos panfletos como forma de sensibilizar os consumidores quanto aos riscos à saúde e à soberania alimentar decorrentes da liberação das sementes transgênicas, de propriedade de um número reduzido de grandes empresas transnacionais. Haverá também a montagem da Feira de Sementes, Saberes e Sabores, fazendo alusão à toda riqueza proporcionada pelas sementes locais, que se traduz em valioso conhecimento transmitido de geração para geração. Será um momento de celebração, resistência e afirmação do modelo de produção camponês baseado na Agroecologia.

 

Após a caminhada, será realizado um Ato Público, com diversas atividades, como teste de contaminação de cultivos tradicionais por sementes transgênicas, depoimentos de agricultores, dramatização sobre os riscos à saúde das famílias e dos consumidores e falas de representantes de órgãos governamentais. No encerramento será feito um gesto simbólico de bênção das sementes.

 

A expectativa é que a Festa sensibilize gestores públicos e a sociedade quanto ao direito de milhares de famílias agricultoras a continuar preservando e manifestando sua paixão pelas sementes tradicionais, por sua terra, pela Natureza, pela biodiversidade e por sua autonomia.

 

Contatos:

Emanoel Dias/AS-PTA: 83 99731582

Glória Batista/PATAC: 83 99991790

Euzébio Cavalcanti/Pólo da Borborema: 83 96126768