Economias Transformadoras para a construção de um outro mundo: Fórum reúne organizações sociais em dois dias de debates no Rio de Janeiro

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 3 de dezembro de 2019

Com os objetivos de contribuir com o debate sobre os modelos de desenvolvimento em disputa, dar visibilidade às experiências e demandas dos movimentos sociais e gerar processos de intercâmbio e produção de saberes, a Plataforma Mercosul Social e Solidário – PMSS realizou nos dias 29 e 30 de novembro de 2019, o ‘Fórum das Economias Transformadoras’.

O evento aconteceu no dia 29 na Lona Cultural Marielle Franco, no município de Maricá-RJ, e no dia 30 de novembro, no Campus Fundão na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, na cidade do Rio de Janeiro. Participaram cerca de 200 pessoas dos dois dias de evento, entre lideranças indígenas, povos de terreiro, grupos de economia solidária e cerca de 50 representantes das organizações e movimentos sociais que integram a PMSS.

No primeiro dia três mesas de diálogo sucessivas apresentaram experiências e debateram temas como: a construção do poder popular a partir dos movimentos e suas práticas, o ecofeminismo e o papel do movimento feminista frente à onda conservadora, novas práticas transformadoras das juventudes, o desafio de construir cidades sustentáveis e as interações campo-cidade na construção da soberania e segurança alimentar e nutricional.

Em uma das falas mais aplaudidas das mesas, Cláudio Alvarado Lincopi, da Comunidade Histórica Mapuche, do Chile, criticou a forma como se criou a ideia dos Estados Nacionais, segundo ele, com a imposição dos interesses e da forma de pensar dos brancos e de que forma os povos originários são colocados no debate: “O multiculturalismo dos Estados Nacionais transformou os povos indígenas unicamente em enfeites para a foto do quadro nacional, sem que isso passe pelo respeito aos seus direitos, em um reconhecimento ‘folclorizante’. Se faz necessário outra construção histórica, há que se manchar de índio e de negro. Os povos indígenas vem reclamando autonomia e autodeterminação, o que significa ter poder de decisão sobre os seus territórios, uma forma de aprofundar e radicalizar a democracia”.

O papel das mulheres no debate da agroecologia e o termo “Ecofeminismo” trazido pelas representantes da argentina foram debatidos durante as mesas: “O que as mulheres reivindicam no movimento agroecológico é que assim como a ética prevalece nas relações homem-natureza, ela também prevaleça nas relações entre as pessoas, o que significa enfrentar as desigualdades que se expressam no dia a dia. Para discutir soberania alimentar, precisamos enfrentar a sobrecarga que recai sobre as mulheres e a divisão do trabalho doméstico, isso é fundamental para que possamos avançar com esta bandeira política”, afirmou Vanessa Scholtz do GT de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia e do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – FBSSAN, durante uma das mesas.

“Somos militantes daquilo que Paulo Freire chamaria de uma ‘utopia concreta’, porque tem os pés nas práticas, das possibilidades que engravidam o mundo, é o abstrato que é viável. É de baixo que se constrói essa utopia concreta e ela só tem sentido se se está falando dos sonhos e anseios coletivos”, resumiu o educador popular e convidado do Fórum Cláudio Nascimento.

No segundo dia de evento, os participantes do Fórum se dividiram em 13 Rodas de Diálogo paralelas para aprofundarem as discussões sobre quatro grandes eixos: bens comuns, economias feministas, agroecologia e segurança alimentar e economia solidária.

Um grupo de mulheres da PMSS realizou uma performance para denunciar o número alarmante de feminicídios e as outras diversas formas de violência contra a mulher. Vestidas de vermelho, elas contaram com a ajuda das outras mulheres do público para desatar suas mãos e lembraram o nome de mulheres que tiveram suas vidas subtraídas, seja pelo descaso do Estado, seja pelas mãos de seus próprios companheiros.

O Fórum, que contou com o apoio da Secretaria de Economia Solidária da Prefeitura Municipal de Maricá e da UFRJ foi encerrado com a apresentação de uma síntese gráfica do que representaram as discussões e com a leitura de uma carta política elaborada pelas juventudes representadas no encontro, em seguida, houve apresentações do Coletivo Ruasia de Maricá e uma roda de samba conduzida pela cantora Dandara Alves.