Com o tema “Trabalhadoras Domésticas em Movimento-Luta e Resistência em Contexto de Pandemia e Trabalho Escravo”, a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) realiza seu XII Congresso Nacional. O evento acontece de forma virtual, devido a pandemia da Covid-19, entre os dias 12 e 15 de agosto de 2021, com participação de trabalhadoras domésticas de 18 estados do Brasil.
A Fenatrad é filiada à Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs) e à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O evento também é realizado pelo Conselho Nacional dos Trabalhadores Domésticos (CNTD) e conta com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT); Federação Internacional dos Trabalhadores Domésticos (FITH); ONU Mulheres; Themis Gênero, Justiça e Direitos Humanos; Solidarity Center; Confederação Latino-Americana e Caribenha de Trabalhadores Domésticos (CONLACTRAHO); CARE; Mulheres Dignidade e Trabalho; Movimento Negro Unificado (MNU), Ministério Público do Trabalho (MPT); CFEMEA; Fundação Ford; SOS Corpo-Instituto Feminista para a Democracia; Agence Française de Développemente (AFD); e Elas Fundo de Investimento Social.
“Mesmo com medo e sem experiência nenhuma, aprendemos muito a mexer na internet e fizemos eventos online. Estou muito orgulhosa da Fenatrad, do nosso trabalho e me orgulho de fazer parte dessa família”, disse Cleide Pinto, da Fenatrad e Sindoméstico Nova Iguaçu, dando boas-vindas as participantes e convocando os estados a se apresentarem. As representantes da Fith e CONLACTRAHO, organizações internacionais de representação das trabalhadoras domésticas na América Larina e no Mundo, também deram as boas vindas.
Onze trabalhadoras domésticas do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos da Paraíba participam do Congresso, entre elas Chirlene dos Santos, da Associação das Trabalhadoras Domésticas de Campina Grande, membro da direção do sindicato estadual e da Fenatrad. “Eu tenho que agradecer primeiramente ao Centrac que é uma parceria nossa aqui de Campina Grande, que me proporcionou oportunidades e formações políticas, para que a gente pudesse levar a luta das trabalhadoras domésticas adiante. E a Fenatrad, que me deu essa oportunidade de representar a federação”, afirmou Chirlene.
Em seguida, foi realizada a Mesa de abertura com Luiza Batista presidente da Fenatrad, com moderação de Jana Silverman e participação de representantes das entidades parceiras: Junéia Batista e Maria das Graças Costa da CUT; Julimar Roberto de Oliveira da Contracs; Britez Juana Del Carmen, vice presidente da Fith e Maria Noelí dos Santos da CONLACTRAHO. “Precisamos debater a PEC 32, que vai privatizar o serviço público. Principalmente essa categoria que usa o SUS, a educação pública. Precisamos nos reunir para derrotar essa PEC”, disse Maria das Graças Costa, da Secretaria de organização e políticas sindical da CUT. “Esse congresso é o momento de situar os problemas e pensar na organização. Precisamos eleger mulheres, trabalhadoras domésticas. Precisamos mudar esse quadro. Garantir nossos direitos e eleger pelo menos uma trabalhadora e mudar a cara do congresso nacional”, afirmou Junéia Batista.
Após a mesa, foi realizado o Painel “As dificuldades da conjuntura e os desafios para a luta das trabalhadoras domésticas” com Creuza Maria Oliveira, Fenatrad e Sindoméstico BA e Chirlene dos Santos Brito, de Campina Grande. Creuza Oliveira falou sobre os desafios da categoria durante a pandemia. “Nessa pandemia mais de 2 milhões de trabalhadoras domésticas perderam o emprego, tiveram covid e muitas estão sofrendo. Nós temos o papel e a responsabilidade de ter um olhar para as mulheres, que são maioria na nossa categoria”, ressaltou Creuza reafirmando seu orgulho pela luta da categoria. “Eu tenho orgulho de ver a nossa luta crescendo e a nossa Fenatrad se expandindo a nível nacional e internacional. Parabéns a todas as companheiras e todas as parceiras e parceiros. Viva a nossa luta!”, concluiu Creuza.
“A maioria da categoria foi dispensada e não teve remuneração, a Fenatrad batia em cima e discutia como essencial os nossos direitos. Nós geramos lucro para o país e se não tem uma doméstica na casa de um trabalhador ou trabalhadora, eles não têm como deixar seus filhos e suas casas e ir para o trabalho. A maioria de nós somos prestas e semianalfabetas, mas realizamos um trabalho digno que não é respeitado”, afirmou Chirlene dos Santos.
A trabalhadora doméstica também relembrou as companheiras que perderam a vida para a covid e que sofreram violência doméstica e familiar, evidenciada durante a pandemia, recordando o caso da trabalhadora Cleonice Gonçalves, primeira vítima da covid no Estado do Rio, de Mirtes de Recife, que teve seu filho Miguel morto por imprudência de sua empregadora. “Várias trabalhadoras pediram ajuda em nossos sindicatos, ajuda para alimentação ou porque foram violentadas no trabalho e também pediram ajuda sobre seus direitos. Nós não somos graduadas na academia, mas temos Ph.D. na vida. E o amor que temos pela luta faz a gente crescer e seguir adiante”, completou Chirlene.
Posteriormente, foi aberto o debate com as participantes do evento. “Comecei em 1960 e estou aqui em 2021, já não tenho mais tanta força como as mais jovens, mas seguimos lutando”, falou a trabalhadora doméstica Jane França, do sindicato de Nova Iguaçu. Creuza Oliveira, finalizou o evento pela manhã com a frase: “Nós temos sangue de guerreiras, sangue de mulheres que não desistem nunca, nem nas dificuldades”.
No momento da tarde, foi realizada a leitura, destaques e aprovação do Regimento do Congresso. A leitura foi feita por Myllena Calasans, assessora jurídica da Fenatrad.
Programação
No segundo dia do Congresso (13 de agosto), as diretoras farão um balanço das atividades e planejamento. Pela tarde acorrerá os grupos de trabalho. Além disso, será lançado o livro “Sindicatos das Trabalhadoras Domésticas em Tempos de Pandemia: Memória da Resistência”
No dia 14 de agosto, será construído um plano de luta da categoria. No domingo (15), último dia do evento, haverá a eleição da direção da Fenatrad e do Conselho Nacional dos Trabalhadores Domésticos (CNTD).