Na quinta feira (30) foi realizada a primeira visita técnica do Projeto de Extensão “Educação Ambiental em tempos de pandemia: fortalecendo a segurança alimentar e nutricional no campo-cidade”, desenvolvido pela professora Rachel Torrez, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) campus Campina Grande com parceria social do Centro de Ação Cultural – CENTRAC.
O primeiro encontro aconteceu no Assentamento José Antônio Eufrouzino, em Campina Grande, mas o projeto também será desenvolvido com famílias agricultoras do Assentamento Pequeno Richard e tem como objetivo fortalecer as ações da agricultura familiar de conservação da biodiversidade, seus modos de vida sustentáveis e a convivência com o semiárido, apoiando a propagação e estocagem de sementes crioulas (milho), promovendo segurança alimentar e nutricional nos Assentamentos.
Rejane Alves, colaboradora externa do Projeto e integrante da Articulação do Semiárido Paraibano (Asa Paraíba), deu início ao momento de apresentação convidado a todos a falarem sobre a memória que tem sobre suas sementes. “Minhas bisavós e meus pais sempre guardaram sementes, mas a gente não tinha a compreensão de porque a gente guardava. Esse conhecimento eu vim aprender na luta com o MST e quando eu participei da primeira Festa das Sementes da Paixão. Foi quando entendi a importância de guardar e como guardar” falou o agricultor Marcos Eloi.
“Comecei no roçado com meu pai, com sete anos de idade e todo ano meu velho lucrava e guardava a semente do feijão macassar branco e vermelho. Tudo que tenho hoje eu aprendi com ele e todo ano eu guardo minha semente. Se um vizinho precisa eu dou também que é pra todo mundo ter”, contou o agricultor Raimundo Silva.
O bolsista do Projeto Joelson, de Alagoa Grande, contou que as sementes do milho, do feijão e do jerimum lembram a sua infância. “Eu me lembro de plantar jerimum com meu avô pela manhã. Ele sempre falava para eu colocar até 4 caroços na cova. E as vezes eu colocava cinco ou seis, não entendia que tinha uma história por trás dessa quantidade. A semente é um ato de fé, porque a gente planta um grãozinho e espera que venha a chuva para colher os frutos”, disse Joelson.
Após a apresentação, os agricultores falaram sobre a produção de sementes crioulas no assentamento e o armazenamento no Banco Comunitário, que surgiu em 2013. “Nessa época vimos a necessidade de criar um banco porque na época do inverno não tínhamos dinheiro e nem sementes para plantar. A gente precisava se organizar para ter semente na época da chuva”, contou o agricultor Marcos Eloy.
Das 14 pessoas que pegaram sementes emprestadas no banco este ano, somente duas tiveram lucro, a agricultora Graça Januário e seu Raimundo, que lucraram a semente do milho. A semente da agricultora Graça já foi testada pelo CENTRAC e está livre de transgênicos.
No assentamento, os agricultores têm um campo de sementes comunitário, uma estratégia de conservação e multiplicação das sementes que serão armazenadas no banco. Além disso, os agricultores e agricultoras também estão refletindo sobre a possibilidade de plantar duas variedades de milho, o Pontinha, que tem o círculo mais curto e o Jabatão, que é de preferência das famílias do assentamento e tem círculo maior. “Nesses anos de seca, o que a gente tem discutido com os agricultores é sobre a cópia de segurança das sementes. Ao plantar, a gente precisa sempre deixar uma garrafa no mínimo como garantia, para não perde a semente se não tiver lucro”, afirmou Rejane Alves.
“A ideia do projeto é levar essa troca de conhecimento do CENTRAC e de vocês agricultores para os alunos do IFPB. O projeto se propõe a comprar sementes, a realizar rodas de conversas com estudantes e professores e a produzir conteúdo audiovisual para divulgar a agricultora familiar”, contou a professora Rachel Torrez.
Na ocasião, Madalena Medeiros, assessora técnica do CENTRAC, falou sobre a Campanha de Multiplicação de Sementes Crioulas que será lançada no dia 15 de outubro pela instituição e chega para fortalecer as ações de sementes que já são realizadas pelas famílias, seja ela vegetal ou animal. O agricultor Marcos falou da raça da ovelha Morada Nova, uma semente animal que adquiriu recentemente através do CENTRAC. “A gente as vezes esquece das sementes de animais, mas sempre foi um desejo nosso aqui na região reproduzir a semente da ovelha Morada Nova, hoje a gente tem um reprodutor e já estamos organizando um Fundo Rotativo Solidário de animais para prosseguir com mais facilidade na reprodução”, contou Marcos.