Multiplicar sementes e conservar memórias, foi com este desejo que guardiãs e guardiões de sementes da paixão do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), se reuniram em um Encontro na terça-feira (30) em Campina Grande. Estiveram presentes 40 agricultoras e agricultores de seis municípios que integram o Folia, com o objetivo de discutir sobre a importância da conservação e multiplicação das sementes da paixão, avaliar o contexto, levantando os desafios e estratégias para a conservação das sementes nos municípios do Território e promover a troca de sementes e saberes.
A atividade foi iniciada com um poema de boas-vindas recitado pela agricultura Lita Bezerra, guardiã de sementes do município de Itatuba e em seguida, a assessora técnica do CENTRAC, Zilma Maximino, apresentou a programação e moderou o debate sobre o contexto da conservação das sementes animal e vegetal no Território.
As guardiãs e guardiões discutiram sobre as problemáticas, desafios estratégias de conservação das sementes crioulas nas suas comunidades. “Em Itatuba, as famílias estão lutando com a dificuldade de água, o lucro foi pouco em relação às sementes. Algumas famílias estão vendendo os animais, mas apesar disso, continuam produzindo, vendendo leite de cabra, tentando se reinventar na dificuldade”, disse o agricultor Sérgio.
O agricultor Marcos Eloi, do Assentamento José Antônio Eufrozino em Campina Grande, falou sobre as poucas chuvas no assentamento. “Não tivemos lucro, mas utilizamos a palha do milho para fazer a silagem. O banco de sementes ficou fragilizado com as perdas das famílias, mas graças a Deus conseguimos doações de sementes do Projeto do IFPB e do CENTRAC e o banco está abastecido. Também adquirimos um reprodutor da raça de ovelha morada nova. Está fazendo um sucesso no assentamento”, contou o agricultor.
Também falaram sobre o controle de natalidade animal, para que nem os animais e nem os guardiões sofram no período de estiagem. “Eu tenho feito o controle das minhas cabras, infelizmente não posso deixar que elas reproduzam nesse período, fica muito difícil para a gente ter um rebanho grande e sem ter como alimentá-lo. Então é melhor ter poucas cabras e deixar que elas se alimentem bem”, contou a agricultora Penha Silva, de Mogeiro.
O agricultor Soares lucrou 43 sacas de milho pontinha e se comprometeu em doar 10 quilos para cada banco de sementes presente no encontro. O milho já passou pelo teste de transgenia e o agricultor também vendeu algumas sacas para o CENTRAC, que distribui para os Bancos de Sementes Comunitários de alguns municípios do Território do Folia.
Madalena Medeiros, assessora técnica do CENTRAC, fez uma síntese das estratégias apresentadas pelos agricultores e agricultoras, entre elas a conservação e multiplicação das sementes resistentes e adaptadas ao clima; a estocagem de sementes nos bancos familiares e comunitários; a estocagem de plantas forrageiras e da caatinga no campo, como a macambira, o xique-xique, a palma; o armazenamento de forragem em silo ou em feno; a criação animal como poupança; o uso das tecnologias sociais; o manejo adequado da caatinga, entre outros. Para fortalecer as ações da comunidade, as agricultoras e agricultores têm trabalhado em mutirões, trocando serviços, animais, saberes e sementes vegetais.
“O grande desafio é enfrentar a escassez de água e a perda de sementes pela contaminação de transgênicos. Pelo relatos, ficou claro que se não tivermos a cópia, a reserva de segurança das sementes, nós podemos perdê-las. Ao multiplicar a semente, a gente conserva a memória, os saberes e as histórias que passam de geração em geração”, ressaltou Madalena.
Após o momento de socialização, foi apresentada a Campanha “Multiplique Sementes Crioulas: conserve memórias no mundo”, com o lançamento do vídeo oficial da Campanha. Também foram distribuídas camisas, máscaras, cartazes e adesivos da campanha e ainda a cartilha: Tecnologias Sociais – Pequeno Manual de Construção, produzida pelo CENTRAC.
“Esse é o segundo passo na direção de construirmos coletivamente a Festa Estadual das Sementes da Paixão no território da Folia. A campanha se soma a essa construção e é permanente, com o objetivo de contribuir com a agrobiodiversidade, a partir do resgate e conservação das sementes crioulas como patrimônio e soberania alimentar”, afirmou Madalena.
Como encaminhamento, as guardiãs e guardiões assumiram o compromisso de multiplicar, preservar e estocar cada vez mais as sementes da paixão e realizar o monitoramento em seus municípios das sementes, da estocagem de forragem, dos Fundos Rotativos Solidários e da comercialização. Estes dados serão fundamentais para o planejamento de 2022 do Folia.
Ao final do encontro, foi realizada a troca de sementes. Cada guardiã e guardião trouxe mudas de frutíferas, forrageiras, ornamentais, medicinais, semente animal de galinha de capoeira, ovos, leguminosas, entre outras, que foram partilhadas juntamente com informações sobre o tempo de cada semente, a forma de plantio, suas características e histórias.
O evento faz parte das ações do Projeto “Articulando atores locais para o controle social de políticas públicas de desenvolvimento rural” desenvolvido pelo CENTRAC, que conta com o apoio de Misereor e do CCFD-Terre Solidaire, em parceria com a Plataforma Mercosul Social e Solidário (PMSS).