Abordando o tema “Tecnologias sociais no enfrentamento às mudanças climáticas: o caso do semiárido brasileiro”, a engenheira agrícola do CENTRAC, Madalena Medeiros, e integrante da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) participou do “Seminário Mudanças Climáticas: interculturalidade, territórios e gênero” realizado na quarta-feira, 23 de fevereiro. O evento foi realizado pela organização não governamental do Paraguai, Decidamos, com o objetivo de refletir e debater sobre como as mudanças climáticas afetam os diferentes territórios, comunidades e a vida das mulheres da região do Mercosul.
A Mesa 2: Convivência e adaptação às mudanças climáticas: implementação de tecnologias sociais para o acesso a água foi mediada pelo agrônomo Marcos Martinez, de Decidamos, e contou com a participação da palestrante Isabel Quantrin, da Argentina, e a presença de Rudi Elías, da FLACSO Paraguai.
“É sempre um prazer falar sobre as tecnologias sociais que se tornaram políticas públicas de convivência com o semiárido”, ressaltou Madalena que apresentou a localização da experiência, situada no Semiárido brasileiro, falou das características climáticas da região e em seguida fez um breve histórico do acesso à água na região, ressaltando que até a década de 70, perdurou a visão do “combate às secas” com grandes obras hídricas, mas no final dessa mesma década teve início a implementação das primeiras tecnologias sociais de armazenamento de água da chuva, conhecida como cisternas de placas, com apoio, financeiro de agências de cooperação internacional e/ou campanhas paroquiais. Enfatizou ainda que “a partir da década de 90, com a criação da Articulação do Semiárido Paraibano (ASAPB) e a Articulação do Semiárido Brasileiro (Asa Brasil), ocorreu uma ruptura com a filosofia e as ações de combate à seca para convivência com o semiárido”.
A engenheira apresentou as experiências protagonizadas pela ASA Brasil, entre elas as tecnologias sociais de armazenamento de água para consumo humano, como o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e também o Programa Uma terra e Duas Águas (P1+2) de acesso a água para produção de alimentos que se tornaram políticas públicas e tiveram aporte financeiro muito significativos até 2016. Trouxe ainda a importância do Programa Água Nas Escolas para as comunidades rurais e ressaltou a importância das cisternas de calçadão e enxurrada e as cisternas para consumo humano para a vida das mulheres e para a mudança da paisagem do semiárido.
A ASA conquistou 14 prêmios nacionais e internacionais em reconhecimento a melhoria na qualidade de vida das famílias agricultoras, através de duas ações de convivência com o Semiárido. “Um dos elementos fundamentais para o sucesso dessa experiência foi o diálogo entre os saberes, a mobilização comunitária e a valorização do trabalho das mulheres. É tanto que ao longo da execução dessas políticas, boa parte das pessoas que viviam em situação de vulnerabilidade estavam no semiárido brasileiro e as tecnologias foram importantes para a mudanças nas paisagens dos agroecosssistemas, do Semiárido brasileiro e na vida das mulheres”, ressaltou.
O CENTRAC, que também integra a rede ASA Paraíba, também tem implementado tecnologias sociais no seu território de atuação, no agreste paraibano. Entre as tecnologias destacam-se o Sistema de reuso de água de consumo doméstico e o Barramento de base zero, uma tecnologia que vem sendo muito utilizada no combate à desertificação e processo no de erosão na região.
A segunda palestrante, Isabel Quantrin, da Argentina, abordou o tema “Abastecimento de água em comunidades indígenas do Chaco”. A palestrante apresentou algumas dificuldades de acesso à água pelas mais de 60 famílias da região, entre elas, a seca provocada pela construção de aquedutos e a contaminação da água de lagos e riachos Guaycurú pela pulverização área contínua de agrotóxicos na região “Temos tido problemas graves de intoxicação por agrotóxicos, que atinge toda a água, o solo e as pessoas”, afirmou Isabel.
Numa tentativa de diminuir a escassez de água na região, a ONG INCUPO da Argentina e a comunidade de Campo Novo decidiram formular dois projetos que foram apresentados a convocatórias para obter financiamento nacional e internacional. Com a aprovação, as várias famílias foram beneficiadas com a construção de cisternas de placas e a conexão de rede de água potável que provém do aqueduto da zona urbana. “Isso mudou consideravelmente a vida das famílias, que não tiverem mais que percorrer longas distancias para pegar água para se banhar e se alimentar”, ressaltou Isabel.
Ambas experiências apresentadas ressaltaram a importância das tecnologias de captação de água para a melhoria da qualidade de vida das famílias atendidas, especialmente as mulheres. “Quem ia buscar água para beber nas regiões mais distantes eram as mulheres e quando surge a tecnologia de acesso à água, elas reduzem o tempo de trabalho e não precisam mais caminhar longas distancias. A cisterna de produção também fortaleceu o quintal agroecológico, espaço de gestão e autonomia das mulheres, soberania alimentar e nutricional, produção de conhecimentos, conservação da biodiversidade e dos conhecimentos a ela associados e no qual se encontram hortaliças, as frutíferas, as plantas medicinais e os pequenos animais. Isso mudou a vida das mulheres pra melhor”, concluiu Madalena Medeiros.
Dania Piz, de Decidamos, fez uma fala de agradecimento as participantes. “Temos muito o que aprender, principalmente com as ações do Brasil que tem mais experiência com e esse trabalho. Aqui estamos começando e aprendendo com as experiências de vocês. Um espaço como este é muito importante para reconhecer as experiências que são desenvolvidas nas duas regiões”, afirmou.
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