Economia Feminista e a Construção do Bem Viver – Intercâmbio de Experiências Região Mercosul e França

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 7 de abril de 2022

No dia 17 de março de 2022, a Plataforma Mercosul Social e Solidário realizou o Intercâmbio de Experiências Região Mercosul e França: Economia Feminista e a construção do Bem Viver. A partir deste evento virtual foi produzida uma sistematização com experiências exitosas de mulheres das duas regiões.

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Introdução

Este é o terceiro encontro de uma série de diálogos Inter temáticos e convergências sobre práticas emergentes de reconstrução do comum, e o de hoje é enquadrado no contexto da data comemorativa do 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Como ressalta Corina Rodríguez, a Economia Feminista se caracteriza por colocar a sustentabilidade da vida no centro da análise. Não busca a reprodução do capital, mas a reprodução da vida. Busca autonomia, igualdade, responsabilidade social, transparência e vida comunitária.

Nesse sentido, o ponto de partida da Economia Feminista é que a produção de vida não pode ser reduzida a números e fórmulas como normalmente se apresentam nos noticiários. Trata-se de uma forma dominante de pensar sobre a economia, que considera apenas uma pequena parte do conjunto de atividades necessárias para produzir vida e movimentar a sociedade. O cuidado, a limpeza dos ambientes e das roupas, a produção de alimentos e o preparo de refeições, a atenção com a higiene e com os sentimentos, a construção de relacionamentos e vínculos, o cuidado com a natureza faz parte da produção de vida e do Bem Viver.

A Economia Feminista tem como uma preocupação central a questão distributiva. E, em particular, foca em reconhecer, identificar, analisar e propor como modificar a desigualdade de gênero como elemento necessário para alcançar a equidade socioeconômica, propondo a construção de uma economia mais sustentável e justa.

Por isso, dizemos que a Economía Feminista contribui extensivamente para o estudo da participação econômica das mulheres, em especial ao revelar os mecanismos de discriminação no mercado de trabalho. Portanto, também contribuiu para incorporar a dimensão da pobreza e evidenciar os processos de feminilização da pobreza que ameaçam não só a autonomia das mulheres, mas fundamentalmente o bem viver.

Para isso, propõe-se a noção de coletivização dos cuidados ou da corresponsabilidade social do cuidado, assim como a soberania alimentar, como práticas transformadoras ao sistema capitalista, patriarcal e colonial.

O cuidado, nesse contexto, é proposto como responsabilidade social e não mera escolha individual. Uma ética de cuidado é proposta como um valor público. O norte da mudança ética será a construção de uma “sociedade de cuidado”, isso uma vez que a sociedade capitalista e patriarcal que conhecemos e habitamos hoje é justamente produzida a partir de um lugar de “não cuidado”, então: Como seria pensar em uma nova sociedade a partir de uma ética coletiva de cuidado?

É nesse contexto que vários grupos de mulheres estão desenvolvendo múltiplas experiências que hoje, algumas delas, compartilharão conosco. Mulheres que ressignificaram seu lugar e, assim, realizam ações que visam articular fatos e conhecimentos ligados à saúde e ao cuidado dos ecossistemas, reconhecendo o pertencimento, resgate e preservação das sementes nativas, das plantas para a saúde, da floresta nativa. Experiências de microempresas, feiras e intercâmbios, processamento coletivo de alimentos, entre outras atividades que fortalecem o tecido dos vínculos comunitários exercidos no cotidiano, conectando-se com a sacralidade da preservação do ambiente natural que sustenta a comunidade e reconhecendo os traços de ancestralidade.