Famílias agricultoras do Assentamento Pequeno Richard, no município de Campina Grande-PB, trocaram experiências durante visita de intercâmbio sobre a tecnologia social Barramento de Base Zero (BBZ). A visita foi realizada na propriedade da agricultora Helenita Medeiros, do mesmo Assentamento, com participação da equipe técnica do Centro de Ação Cultural – CENTRAC.
“O intercâmbio é um momento de troca entre as famílias, mesmo que seja do mesmo assentamento ou comunidade. As vezes a gente não conhece o que o vizinho ou vizinha está fazendo. Hoje vamos conhecer uma tecnologia social de conservação do solo, porque sem o solo a gente não produz, não faz nada. Não tem palma, não multiplica nossas sementes, não pode criar os animais. O solo, assim como a água, é fundamental para a agricultura familiar”, afirmou a assessora técnica do CENTRAC, Zilma Maximino.
A agricultora Helenita vive na propriedade com o esposo, Inácio Almeida, e o filho José Iago Medeiros. A família tem se dedicado a criação animal de porcos, galinha de capoeira e criação de gado e ao plantio de plantas forrageiras, frutíferas, ornamentais e roçado de milho, feijão preto e feijão macassar. A propriedade já possui três barramentos, 1 feito pela família e outros dois implementados pelo CENTRAC com apoio da organização espanhola Manos Unidas, através do Projeto “Fortalecendo sistemas alimentares com mulheres do Semiárido Paraibano”.
O técnico Antônio Carlos Vasconcelos esclareceu aos visitantes a importância de fazer o barramento na propriedade. “É preciso fazer o barramento antes das chuvas, ele vai ajudar a reter o solo e evitar o processo de erosão. Quando a chuva vier, as pedras vão barrar toda a matéria orgânica que iria ser levada pela força da água. O barramento vai ajudar a acumular essa terra, novas plantas vão surgir consequentemente e o local que já estava degradado, vai voltar ao seu nível natural. Aqui, por exemplo, medimos a altura do BBZ em 76 cm, olhem o tanto de terra que será recuperada.”, disse Antônio.
A agricultora Helenita compartilhou que já vem percebendo algumas mudanças na propriedade após o primeiro barramento implementado. “Quando não tinha o barramento, a chuva levava os entulhos pra o barreiro da gente, agora não leva mais. É por isso que a gente tá fazendo outro barramento aqui embaixo. Porque agora a chuva vem, não leva mais as sujeiras, a gente não precisa gastar pra limpar o barreiro e a terra também já está se recuperando”, disse Helenita, afirmando ainda que além da recuperação do solo, a família ainda economiza 180 reais a hora trabalhada para a limpeza do barreiro.
Durante a visita, o grupo tirou dúvidas sobre o passo a passo da construção e sobre o tempo de plantio na área do BBZ. De acordo com a técnica Jarcira Oliveira, “o plantio no local pode ser realizado quando já tiver matéria orgânica retida, aqui mesmo a gente já pode observar que a natureza já vai se recuperando sozinha. Se tiver animais no local, também é importante que a área seja cercada ao começar o plantio”, afirmou.
A agricultora Zélia de Melo Duda, que participou da visita, já possui dois barramentos em sua propriedade. Ela conta que momentos como esse são fundamentais para fortalecer o trabalho das famílias do campo. “O CENTRAC vem trazendo muitas tecnologias pra nosso assentamento, tem a teoria e tem também a prática, e a gente vem multiplicando esse conhecimento com outros agricultores”, ressaltou.
A família de Helenita recebeu mudas de plantas forrageiras e frutíferas doadas pelo CENTRAC. Ao término da atividade, foram enregues ao visitantes alguns materiais informativos, entre eles “Tecnologias sociais – Pequeno manual de construção”.
O Barramento de Base Zero – O BBZ é uma tecnologia social de conservação do solo. Esses pequenos muros de pedras são feitos de formas transversais nos leitos dos riachos e grotas e tem ajudado a reter os sedimentos produzidos pela erosão, promovendo o ressurgimento da biodiversidade e o recaatingamento nesses locais. Também ajudam a reverter o processo de desertificação e promovem a fertilização gradual do solo e a conservação de água.
Além do BBZ, o CENTRAC vem trabalhando com as famílias agricultoras da região do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), outras práticas de conservação do solo, como a cobertura morta; o plantio em curva de nível e os sistemas agroflorestais com uso de espécies nativas, as frutíferas, madeireiras e forrageiras, entre elas o gravatá, o agave, a palma forrageira e a macambira.