Projeto fortalece sistemas alimentares e a geração de renda para 150 famílias agricultoras de Campina Grande

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 24 de fevereiro de 2025
Agricultoras beneficiadas pelo projeto

O projeto “Fortalecendo Sistemas Alimentares com Mulheres no Semiárido Paraibano”, desenvolvido pelo Centro de Ação Cultural (CENTRAC) com o apoio de Manos Unidas, tem promovido a autonomia das mulheres, a geração de renda e o fortalecimento da produção de alimentos no território do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia).

Atuando nos Assentamentos José Antônio Eufrozino e Pequeno Richard, em Campina Grande, o projeto vem implementando tecnologias de acesso à água que transformam a realidade das famílias. Na primeira fase, em 2022, foram instalados sistemas de reúso de água, permitindo a produção de frutíferas, plantas nativas e forrageiras nos quintais geridos pelas mulheres. Nesta nova fase, estão sendo construídas novas tecnologias de captação de água para a produção de alimentos e criação de animais, além da estruturação de quintais agroecológicos, tudo isso combinado com um processo de formação e troca de experiências e saberes entre as famílias. Com as tecnologias de captação e reaproveitamento de água, as famílias beneficiadas ampliaram sua capacidade de armazenamento de 800.000 para 1.464.000 litros, um aumento significativo que tem melhorado a qualidade de vida. A ampliação do volume de água armazenado é resultado da parceria do CENTRAC com Manos Unidas, mas também com o Ministério do Desenvolvimento Social.   

Produção de frutíferas, agricultora Avani – Assentamento Pequeno Richard

O acesso à água permite reduzir o tempo de trabalho, facilita atividades domésticas e garante a irrigação das plantações, promovendo segurança alimentar e hídrica. A agricultora Avani, do assentamento Pequeno Richard, precisava se deslocar de casa até o açude que fica a 15 minutos da sua propriedade. Agora, não precisa ir com frequência ao açude porque tem como armazenar água da chuva em casa. “Com água, agora vou poder fazer os canteiros para produzir minhas hortaliças”, contou a agricultora. 

A coordenadora do Programa Desenvolvimento Sustentável do CENTRAC, Madalena Medeiros, reforça a importância das tecnologias de captação de água para o trabalho de cuidado das mulheres que não é visibilizado. “São as mulheres que cuidam das crianças, da pessoa idosa, da limpeza da casa e que se preocupam com o alimento na mesa. Tudo isso requer água, e elas gastam um tempo para ter essa água perto de casa. Além da água para o cuidado com a higiene pessoal delas e das meninas. Ter água no quintal de casa é um direito de todas as mulheres, para se alimentar, para produzir e para o cuidado também”. 

“As tecnologias foram uma bênção. Com água, a gente planta feijão macassar, palma, milho, coentro e cebolinha. Com o tanque de placas, tenho água para a produção de hortaliças e para beber”, conta a agricultora Patrícia Rodrigues, do Assentamento José Antônio Eufrozino.

Sistema Agroflorestaal e criação animal, agricultora Patrícia – Assentamento Eufrouzino

Patrícia tem um sistema agroflorestal com uma diversidade de plantas nativas da caatinga, frutíferas, plantas medicinais e hortaliças. Além disso, possui uma área destinada à criação de aves, como galinhas, guinés, gansos, patos e paturis. “Com as telas do projeto eu posso cuidar bem das plantas sem me preocupar com os animais”, reforçou. A família tem investido na criação animal e, além das aves, possui vacas e porcos. Com o leite da vaca, que também serve de alimento para a família, ela faz manteiga e queijo para vender na cidade. “As galinhas eu alimento com o milho do roçado, os porcos recebem o soro do queijo, lavagem e milho, e as vacas são alimentadas com palma e forragem do silo.” Com isso, Patrícia reforça como a produção de alimentos para a família e para os animais têm fortalecido a renda, tornando a propriedade autossustentável.

Quintal da agricultora Vera Lúcia – Assentamento Eufrouzino

Os quintais agroecológicos, que são geridos pelas mulheres, também tiveram melhorias estruturais e um aumento expressivo na produção de alimentos. Como destaca a agricultora Vera Lúcia, do assentamento Eufrouzino: “Quando cheguei aqui, não tinha nada. Mas de 2022 para cá, com o projeto, comecei a produzir minhas frutíferas.” Hoje, seu quintal conta com uma diversidade de cultivos, incluindo graviola, pinha, mamão, caju e plantas medicinais. A agricultora também tem utilizado as plantas nativas da caatinga para fazer cercas vivas e aproveitado as folhas secas e galhos para fazer a cobertura do solo, uma estratégia para conservar a água e proteger o solo.

“A gente sempre planta no inverno, mas, na seca, só conseguia reutilizar a água da lavagem da louça. Agora, com o reúso, o tanque de placas e as cisternas, posso aumentar minha produção”, explica Vera. Além da produção agrícola, ela também cria galinhas, vendendo ovos para a comunidade, e mantém a criação de ovelhas e porcos, garantindo mais uma fonte de renda para a família.

Além de garantirem alimentos de qualidade para consumo e comercialização, as famílias também compartilham, trocam mudas, sementes e alimentos no período de colheita. “Eu comecei com essa troca por aqui. Eu tenho uma coisa, o vizinho tem outra, e assim vai”, explica Vera Lúcia, que também vende ovos, galinhas e frutas, especialmente em anos de inverno favorável.

O projeto reafirma a importância do acesso à água como um direito fundamental e um fator decisivo para a autonomia das mulheres e a soberania alimentar no Semiárido Paraibano.