Território do Agreste sediará próxima Festa Estadual das Sementes da Paixão

Publicado por Aurea Olimpia
Campina Grande, 16 de setembro de 2019

O Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, uma das sete dinâmicas microrregionais que compõem a Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba, sediará a nona edição da Festa Estadual das Sementes da Paixão. A decisão saiu no último encontro regional do Fórum, realizado no dia 13 de setembro, em Campina Grande-PB e foi tomada em comum acordo com a Rede de Sementes da ASA Paraíba que é a responsável pela temática no estado.

O Folia ainda não havia recebido nenhuma edição da Festa, que é realizada a cada dois anos. A oitiva e última edição aconteceu em junho de 2019 no município de Soledade-PB, no Cariri Paraibano. “Sementes da Paixão” é o nome pelo qual ficaram conhecidas, na Paraíba, as sementes nativas, ou crioulas. Um verdadeiro patrimônio genético selecionado e conservado há várias gerações pelas famílias agricultoras, seja em bancos de sementes familiares ou comunitários.

A Festa Estadual das Sementes da Paixão é um momento de celebração das conquistas e articulação para enfrentamento dos desafios no trabalho de conservação das sementes nativas, livres de transgênicos e agrotóxicos. Um momento de diálogo com instituições de pesquisa, governos e sociedade a respeito do tema, que não envolve apenas as sementes vegetais, mas também as sementes de animais de raças nativas, adaptadas as condições climáticas do Semiárido.

Durante o seu encontro, o Folia, em conjunto com as entidades de assessoria Centro de Ação Cultural – Centrac, Comissão Pastoral da Terra – CPT e Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM, promoveu uma avaliação da 8ª FESP. Os agricultores e agricultoras presentes debateram sobre as lições aprendidas e o saldo positivo deixado pelo evento, afirmando que a Festa serve de estímulo para continuarem o seu papel de guardiões e guardiãs de sementes: “É muito gratificante para nós sabermos que no nosso assentamento, uma única agricultora tem 14 variedades só de feijão, é uma riqueza muito grande”, comentou Daniele Pereira, presidente da associação de moradores do Assentamento Antônio Eufrozino, em Campina Grande.

Na avaliação, também foi ressaltada a satisfação em, a partir do contato com outros guardiões em feiras de troca ou venda, poderem ter acesso a variedades que já haviam perdido, seja devido à seca, seja pela contaminação de transgênicos: “Durante a festa, resgatei a minha semente de feijão mulatinho de cacho, que fazia muito tempo que não tínhamos mais. O meu agora está lá, com flor e cacho, a coisa mais linda! Essa festa pra mim entrou para a história”, comemora Zilda de Araújo Tavares, do Sítio Jenipapo de Cima, em Puxinanã-PB.

Na ocasião, foram levantadas ainda respostas para as seguintes questões: “Quais são as estratégias para a conservação das sementes no nosso território?” e “Como faremos o mapeamento dos bancos comunitários de sementes e guardiões?”.

Entre as principais respostas estão: a promoção de debates sobre o tema das sementes junto aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural e Sustentável (CMDRS); a continuidade das formações sobre transgênicos; a mobilização das comissões de cada município para o monitoramento dos guardiões e guardiãs e bancos de sementes e o cuidado com a alimentação dos animais entre outras. Ao final do encontro, foram distribuídos kits, por município, com fichas para catalogação das informações sobre os bancos e entrevistas com as famílias guardiãs a respeito das variedades e espécies que possuem, além das suas sementes favoritas.

A próxima edição da Festa das Sementes da Paixão ainda não tem data e município definidos, mas as lideranças deixaram o encontro com o compromisso de intensificar esse trabalho até a realização da festa. “Em Mogeiro já demos o ponta pé para expandir essa discussão, realizando momentos de debate com o conselho (CMDRS) e não podemos perder a oportunidade de falar sobre esse assunto nas reuniões das associações, porque não adianta eu plantar certinho, meu vizinho não plantar e contaminar as minhas sementes”, disse José Carlos Rodrigues, do Assentamento João Pedro Teixeira.