Na tarde de 01 de outubro, agricultores e agricultoras, jovens e crianças, assentados e assentadas da reforma agrária comemoraram os 15 anos da posse da terra do Assentamento Dom Marcelo, em Mogeiro, Agreste Paraibano. “Esse é um momento de orgulho para nós. Dia de celebramos os 15 anos de posse da terra deste Assentamento. Mas a luta é bem mais longa, são 22 anos de muito chão”, disse o assentado João Martins.
A comemoração teve início com uma missa, celebrada pelos padres Gean Souza e Eliezer Pereira na sede da Associação Comunitária. Os 15 anos foram celebrados com muita música, durante seu sermão, o padre Gean recordou a trajetória de luta e de alegria do assentamento, reforçando a importância de mostrar às crianças e aos jovens a importância desses momentos, para que a história permaneça viva. “A gente chegou na terra e temos que lutar por aqueles que ainda não chegaram. Estando na terra, precisamos cuidá-la como dom de Deus. A luta continua”, ressaltou o religioso.
Os assentados e assentadas também ofertaram os frutos durante a celebração, as sementes, bandeiras de luta e as memórias do Assentamento Dom Marcelo. A comunidade também preparou um mural com fotos retratando sua trajetória e uma réplica das moradias do período de acampamento, onde viveram por 3 anos.
“Em 1997 nós fomos despejados deste assentamento e fizemos um acampamento abaixo da Rede Elétrica Paulo Afonso. Foram três anos de acampamento com 90 famílias e muitas crianças. Em fevereiro de 2000, recebemos outra ordem de despejo em Paulo Afonso, mas nós conseguimos negociar e decidimos voltar para Dom Marcelo e ficamos até hoje”, contou a assentada Maria José Rodrigues, esposa de Ivanildo Francisco da Silva, assentado que foi assassinado em 2016 vítima do conflito de terra na região.
Dom Marcelo conquistou a posse da terra em 01 de outubro de 2004. “Antes, o assentamento era chamado de Fazenda Mendonça, terra de um dono só. Todos que moravam e trabalham na terra foram despejados, tiraram os roçados das famílias e a terra ficou para criação de gado. Essa terra, que hoje se chama Dom Marcelo, recebeu esse nome em homenagem a um Bispo da Paraíba, que foi um guerreiro e nos ajudou muito na época. Por causa dele, nós não fomos despejados novamente do Dom Marcelo.”, afirmou a agricultora Lindalva Antônia de Oliveira.
Na celebração, estiveram presentes representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Centro de Ação Cultural (Centrac), os advogados que acompanham as causas do Assentamento e o ex Superintendente do Incra, Júlio César Ramalho, responsável pela assinatura de imissão da terra do Dom Marcelo.
O advogado Noaldo Meireles conta que, em 1998, fez a primeira reunião debaixo de um Juazeiro com a comunidade e que o pé de Juá foi a primeira sede da associação: “Eu lembro como hoje, um proprietário de terra falando que deviam cortar o pé do Juá que era pra o povo não se reunir”, disse o advogado. “O padre Gean também foi muito feliz quando chamou a atenção dos jovens para que eles enxerguem o processo da luta. Saibam o que foram os despejos e todo o sofrimento que seus familiares passaram. Se os jovens têm escola, água e moradia, foi por conta dessa luta”, disse Noaldo.
“Quando a gente estava no acampamento eu passei fome com minhas crianças. O Padre João Maria conseguia leite, fubá e açúcar para a gente poder alimentar as crianças do acampamento e depois ele deixava alimentação para os adultos: fubá, charque e feijão. Ele foi um homem muito bom, que sempre apoiou a luta e nós temos que agradecer e lembrar das pessoas que foram importantes naquele momento”, disse a assentada Maria José Martins.
Depois das falas, a Escola Primeiro de Outubro realizou uma apresentação teatral e a festa continuou com comidas e um bolo dos 15 anos do Assentamento Dom Marcelo partilhado entre os presentes.