Agricultora de Campina Grande fala sobre protagonismo feminino na agroecologia durante evento

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 16 de março de 2020

Na ultima sexta feira, 13 de março, o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), em Campina Grande-PB, realizou um Cine debate com o tema “O protagonismo feminino na agroeocologia”. O evento foi organizado pelo Núcleo de Popularização da Ciência, através do Programa Semiárido em Tela.

A atividade, alusiva ao 8 de Março, Dia Internacional da mulher, contou com a participação de bolsistas, pesquisadoras e pesquisadores do INSA, jovens e agricultoras familiares de comunidades rurais do Distrito de Catolé de Boa Vista e agricultoras integrantes do Fórum de Lideranças do Agreste (Folia), dinâmica territorial assessorada pelo Centro de Ação Cultural (Centrac).

Durante a palestra, foi apresentado o filme “As Sementes”, de Beto Novaes e Cleisson Vidal, que relata a história de mulheres agricultoras e suas experiências com a Agroecologia e o protagonismo feminino. Após o filme, a Agricultora Josefa Gomes Valentim, da Serra Joaquim Vieira, em Campina Grande, iniciou o debate. “Eu venho de uma família de agricultores e sou agricultora, sempre morei no sítio. Toda nossa comida vinha do roçado ou da caça. E quando eu vejo algumas cenas do filme, eu me lembro da minha mãe, ela me contava que mulher não podia estudar e o futuro era criar os filhos”, afirmou Josefa, mais conhecida como Zefinha.

A agricultora contou ainda que só conseguiu concluir o ensino médio depois de casada. “Eu tinha dois sonhos. Um era ser freira e o outro era ser enfermeira. Meu sonho começou a mudar quando eu comecei a observar o sofrimento da minha mãe, e até a dificuldade de comer que às vezes a gente passava. E comecei a querer ter uma casa, ter comida pra colocar na mesa e ter um marido”, contou a agricultora.

“Quando eu conheci o Padre Cristiano, na minha comunidade, eu comecei a ouvir falar dos direitos das mulheres. Iniciei uma formação de base, me envolvi na comunidade e cheguei ao sindicato. Fui percebendo que minha comunidade precisava melhorar na organização, criamos um grupo de mulheres, montamos uma farmácia de ervas medicinais e a gente fazia as trocas de uma erva pela outra e pra quem não era do grupo a gente vendia. Depois de dois anos, criamos o Clube de Mães que hoje tem 42 mulheres e foi fundado no ano 2000. Construímos a sede com recursos próprios, com a mensalidade de 2 reais e com um bingo feito também pelas mulheres. O nosso sonho era criar um Banco de Sementes e hoje nós conseguimos. A decisão de criar o banco se deu quando o governo começou a doar as sementes e todos os anos a gente ficava dependente. Em 2017 criamos o nosso banco de sementes, com apoio da igreja, isso foi importante porque a gente deu continuidade a preservação das sementes, que nossos avós e pais já faziam”, disse Josefa.

Josefa encerra o debate falando que contribui voluntariamente com as atividades de sua comunidade, destacando a importância da criação dos filhos sem machismo e da necessidade dos filhos homens participem também do trabalho doméstico, como condição para a igualdade de direitos entre mulheres e homens.

A bolsista Jaqueline Oliveira do INSA ressaltou: “Eu lembro que tinha muitas críticas quando as mulheres aqui do distrito do Catolé de Boa Vista começaram a se reunir. Disseram que não ia dar certo, que nós não éramos capazes de colocar um sindicato pra frente. E ao longo dos anos, foram criadas várias associações e grupos, mas só as que foram organizadas por mulheres resistem até hoje. Minha mãe foi do sindicato, eu também fui e agora vejo uma nova geração iniciando também”.

“O filme trás a valorização e a conservação da vida, da biodiversidade. Depois o filme trás o trabalho de cuidados das mulheres, que é invisibilizado e desvalorizado. E essa invisibilidade do trabalho é uma violência contra as mulheres, que dão conta do roçado, dos afazeres domésticos, do arredor de casa, da alimentação e dos filhos”, ressaltou Madalena Medeiros do Centrac.