Agricultoras e agricultores familiares, assessoras/es técnicos, jovens e coordenadores/as das organizações que fazem parte da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) participaram da abertura do encontro rumo ao IX Enconasa: Povos e Territórios resistindo e transformando o Semiárido. O evento aconteceu nesta terça, 18 de outubro, em Princesa Isabel – PB. O evento é uma etapa preparatória para o Encontro Nacional da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), um espaço de debate político-organizativo da rede, onde se formulam e propõem políticas e ações de desenvolvimento para o Semiárido pautadas na proposta de convivência com o semiárido.
Ainda na alvorada, os participantes chegaram à comunidade Lagoa de São João, zona rural de Princesa
Izabel. A localidade é conhecida na região do médio sertão pelo cultivo da mandioca e tem, atualmente, sete casas de farinha ativas. Em 2003, as famílias se organizaram e criaram a Festa da Mandioca, que é realizada anualmente na comunidade.
Dando boas vindas aos visitantes, os moradores de Lagoa de São João receberam a todos com muita música, dança e poesia. Ao som do Trio de Forró Guarita, as freiras Teresinha e Francinalda animaram o encontro. A comunidade fez uma apresentação sobre sua história, em formato de carrossel, com versos produzidos pelos jovens, agricultores e agricultoras da comunidade, falando sobre o cultivo da mandioca e as casas de farinha, suas sementes crioulas, na Paraíba, conhecidas como “Sementes da Paixão”, as experiências com os Fundos Rotativos Solidários e a importância das políticas públicas de convivência com o semiárido, como os Programas Um Milhão de Cisternas (P1MC), Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e Água nas Escolas, acessadas pelas famílias do local nos últimos anos.
“Quando a cisterna do P1MC chegou aqui na comunidade, algumas famílias não foram contempladas, porque não se enquadravam nos critérios do programa. Mas, percebendo a necessidade de ampliar a água de beber a outras famílias, nós criamos o Fundo Rotativo Solidário aqui e já construímos outras 18 cisternas. Todo mês as famílias contribuem com 10 reais e é o trabalho de união da comunidade que faz com que dê certo”, contou Kaliane Fernandes, uma das organizadoras da Festa da Mandioca.
Ainda no carrossel, houve apresentação das crianças, cantando e tocando flauta, e também das jovens da comunidade, com uma apresentação de dança. Enquanto a comunidade se apresentava, foram oferecidos beijus e duas lembranças, uma com farinha de mandioca e outra com a semente de feijão paulista, preservada pela comunidade há mais de 20 anos. Ao termino desse primeiro momento, os demais participantes se apresentaram, entre eles os vindos do Cariri, Seridó, Curimataú, Agreste, Borborema e Alto Sertão.
Ainda pela manhã, foi apresentada uma linha do tempo com a história dacomunidade de Lagoa de São João, desde a década de 80 até os dias atuais. A apresentação foi feita pelo presidente da Central das Associações Comunitárias do Município de Cacimbas e Região (Camec), Gilberto Nunes de Souza, organização que atua na região do médio sertão com os Programas P1MC e P1+2.
Posteriormente, foram apresentados os impactos, através das políticas públicas de convivência com o semiárido na comunidade, na vida das mulheres e dos jovens. “Nós disputávamos água de cacimba e de barreiro com cabra, gato cachorro. Era desumano. Fora os saques nas feiras livres e mercados”, afirmou o presidente da Associação Comunitária dos Pequenos Agricultores de Lagoa de São João, Aldacir Gomes. “Hoje a comunidade já teve acesso a diversas políticas públicas, o bolsa família, que ainda garante renda a muita gente, os programas de cisternas, que graças a Deus ninguém precisa mais carregar água na cabeça, principalmente as mulheres. E os programas de crédito, o auxílio maternidade, pré-natal e tantas outras políticas que só fortalecem a agricultura familiar”, ressaltou Kaline Fernandes.
A jovem Nayane Pena, 15 anos, participa do Grupo de Perseverança em Cristo, com mais de 40 jovens. Para Nayane, a mandioca é parte da cultura de sua cidade. “A mandioca é o sustento da minha família e de muitas famílias aqui na Lagoa, agora nossa comunidade está organizada, os jovens participam mais e eu quero valorizar o que a gente tem, eu não me vejo saindo daqui e tenho muita vontade de poder dar continuidade ao trabalho que a nossa comunidade já vem fazendo, valorizando nossa cultura”, disse Nayane.
A coordenadora executiva da ASA-PB, Glória Araújo, falou sobre a importância do acesso a água como um direito e o dos desafios que o semiárido está enfrentando com a atual conjuntura política do Brasil. “Ter água é ter poder. E nós estamos correndo o risco de voltar à indústria da seca. Nós precisamos trabalhar agora, nas comunidades, nos territórios, pela garantia dos nossos direitos, sem nenhum retrocesso”, afirmou Glória.
No momento da tarde, a atividade ocorreu no salão do Aquaclub, em Pincesa Isabel. Com o objetivo de discutir o papel das redes territoriais na articulação de políticas públicas de convivência com o semiárido e as estratégias de luta da rede ASA Paraíba para o enfrentamento dos desafios, foram divididos 3 grupos.
Dentre as propostas apresentadas, destacam-se: articular as organizações da rede; mobilizar, capacitar e incluir os agricultores nas políticas públicas; fortalecer os fundos rotativos solidários; fortalecer as assessorias; reforçar o diálogo entre as próprias redes e o poder público; provocar as comunidades para o debate político, dentre outras.
O evento continua nesta quarta-feira, 19 de outubro, com a escolha dos delegados e delegadas para o IX Enconasa, que será realizado entre os dias 21 e 25 de novembro, em Mossoró – RN.