Projeto “Da Roça à Mesa” apoiará a produção de famílias agricultoras de Puxinanã-PB

Publicado por Aurea Olimpia
Campina Grande, 19 de janeiro de 2018

Cerca de 100 pessoas entre famílias agricultoras, realizadores, parceiros e apoiadores do Projeto “Da Roça à Mesa – Tecnologias Sociais Gerando Autonomia e Renda no Semiárido Paraibano” estiveram reunidas, na manhã dessa sexta-feira (19), na Comunidade Jenipapo de Cima, município de Puxinanã, no Agreste Paraibano, para o lançamento da nova fase da iniciativa. O projeto vai beneficiar 30 famílias, um total de 150 pessoas, com a implantação de tecnologias como sistemas de reuso de água, biodigestores, fogões ecológicos e barragens de base zero, além de promover formações e intercâmbios entre as famílias agricultoras locais.

O da Roça à Mesa é uma iniciativa da organização não governamental Centro de Ação Cultural – Centrac, que busca apoiar e qualificar a produção de famílias agricultoras em transição agroecológica com potencial para a comercialização. Em 2015, o projeto apoiou famílias agricultoras de Aroeiras-PB, contribuindo com a constituição da primeira feira agroecológica do município. A ação, desde o seu início, conta com recursos financeiros da Fundação Banco do Brasil – FBB e com o apoio do Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento – CCFD, agência de cooperação internacional francesa, por meio da plataforma Programa Mercosul Social e Solidário – PMSS, da qual o Centrac faz parte.

O lançamento aconteceu no terreiro do casal Zilda Araújo Tavares e Ademar Pereira Tavares. Na propriedade ainda vivem dois dos três filhos do casal, mais uma nora e dois netos. A família tem uma criação de 10 animais, sendo 4 vacas, 4 bois e 2 bezerros. Ela será beneficiada com a construção de um biodigestor, tecnologia que é abastecida com os dejetos (fezes) dos animais, e por meio da fermentação e da atividade de bactérias, gera o gás metano, ou gás de cozinha, que é levado até o fogão da casa por meio de uma mangueira, dispensando a compra do botijão. O subproduto ou parte sólida, ainda serve de adubo para hortas. “Eu não vejo a hora de chegar esse dia!”, conta entusiasmada Zilda, que conquistou sua primeira cisterna de consumo humano em 2004, por um projeto do Governo do Estado. Em 2016, veio a cisterna de produção, do tipo calçadão, por meio do Polo da Borborema e da parceria com a Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba, a Articulação do Semiárido Brasileiro – ASA Brasil e o Ministério do Desenvolvimento Social – MDS.

A agricultora deu o seu depoimento ao dar as boas-vindas aos presentes: “Hoje, nós agricultores, podemos dizer que somos ricos, pelo que a gente já passou. Antes de ter acesso a essas tecnologias e esses conhecimentos, a gente sofria demais, a gente pegava água nos barreiros, se chovia hoje de noite, a gente já tinha que acordar de madrugada para ver se pegava uma água melhorzinha. Essas cisternas foram muito bem vindas, é uma satisfação muito grande para nós ter essa conquista”, disse.

Estiveram presentes representantes do Banco do Brasil e do conjunto de entidades e redes parceiras do projeto a exemplo do Fórum de Lideranças do Agreste – Folia, ASA Paraíba, Serviço Pastoral do Migrante – SPM, Polo da Borborema, Instituto Nacional do Semiárido – INSA e Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional – Consea-PB. Além de diversas associações comunitárias de Puxinanã e entes governamentais como Emater e Secretarias de Agricultura Recursos Hídricos e Meio Ambiente e Assistencial Social de Puxiananã.

Francisco Nilton Pinheiro e Daniel Marley, ambos gerentes de relacionamento do Banco do Brasil, representaram o gerente geral de Campina Grande-PB, Paulo Gerson na atividade. “A gente fica muito feliz em fazer parte dessa história tão bonita. É muito importante para o Banco do Brasil fazer parte do desenvolvimento das comunidades locais, para nós é uma satisfação e contem sempre conosco”, destacou Francisco Nilton.

Antônio Carlos Pires de Melo, da Rede Água, da ASA Paraíba e da organização Patac, falou sobre a importância das tecnologias que aumentem a oferta de água e sobre a necessidade de que existam mais políticas públicas que apoiem a irradiação das experiências. “Com esse apoio, a Fundação Banco do Brasil está mostrando que tem compromisso em espalhar essas tecnologias. Os grandes programas de cisternas, bombas populares, barragens, etc. começaram com o apoio de pequenos projetos de implementações como este. A água servida, por exemplo, não é só uma nova fonte de água, mas também a fertilização do solo, servindo a vários usos, como a produção de forragem, de mudas, a multiplicação de sementes, ela tem esse potencial”, explicou, se referindo a tecnologia do sistema de reuso de água, com caixas de filtragem que permite reutilizar a água servida das torneiras da casa e do chuveiro para a agricultura.

Segundo Antônio Carlos, o sistema é capaz de acumular 1000 litros de água por semana, o que dá a quantidade de uma cisterna de 52 mil litros por ano, só de água servida. “Um princípio muito importante é reconhecer que estas tecnologias nunca estão totalmente acabadas, eles podem ir sendo aperfeiçoadas de acordo com cada realidade. As famílias agricultoras podem ir experimentando e inovando”.

Madalena Medeiros, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Centrac e coordenadora do projeto explicou que a iniciativa busca ainda, além de permitir o acesso às tecnologias, promover processos de formação que permita aos agricultores e agricultoras trocar conhecimentos e melhorar a sua qualidade de vida e a sua renda, contribuindo para a constituição da primeira feira agroecológica de Puxinanã, a partir de uma vocação que as famílias locais já tem.

O “Da Roça à Mesa” busca incentivar a autonomia das mulheres, entre os 150 agricultoras e agricultores beneficiários direitos, 60 são jovens e 80 mulheres. Cícera Maria Ferreira tem 82 anos, ela e a filha Maria Luiz Ferreira, vivem na mesma casa, no Sítio Espinheiro, em Puxinanã. A agricultora aguarda ansiosa a construção do fogão ecológico: “Eu trabalho na roça, mas não largo do meu fogão, com esse eu e minha filha vamos fazer doces e bolos, não vejo a hora!”. A tecnologia usa pouquíssima lenha, sendo alimentado com gravetos, contribuindo assim para a conservação da caatinga e gerando menos fuligem, com mais eficiência.