Agricultores familiares de Aroeiras compartilham experiências agroecológicas

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 7 de fevereiro de 2018

“A cisterna é minha terapia, é meu xodó e eu tenho um zelo danado por ela. É uma política pública que veio da luta do povo e a gente precisa ter consciência e valorizar pra que mais famílias possam ter acesso”. Foi com estas palavras que a agricultora Solange Araújo deu as boas vindas aos agricultores e agricultores familiares de Aroeiras-PB, que visitavam sua propriedade.

A visita de intercâmbio aconteceu na comunidade Bernardo, no dia 06 de fevereiro, reunindo 33 famílias agricultoras das comunidades Carapebas, Tamanduá, Samambaia, Ponciano e Camará, todas beneficiadas pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) com as cisternas do tipo calçadão ou enxurrada. O Programa é desenvolvido pelo Centro de Ação Cultural (Centrac) em parceria com a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB), com apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil (FBB) e Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Durante a visita, Solange apresentou a diversidade da sua produção de hortaliças, plantas medicinais, frutíferas e forrageiras, cultivadas após a chegada da cisterna calçadão. As famílias também conheceram outras tecnologias de convivência com o semiárido: a cisterna de água de beber, do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC); o fogão ecológico; o sistema simplificado de reuso de água e o banco de sementes comunitário. “Hoje, no intercâmbio, vocês vão conhecer minha experiência, uma oportunidade de verem, aprenderem, compartilharem e terem novas ideias para praticar na propriedade de vocês”, disse a agricultora.

Ao apresentar o sistema de reuso de água, Solange explica como é feito o processo de filtragem da água do banho e da pia, que passa por um recipiente com brita e areia até chegar na caixa d’agua, “Na crise de água eu já fazia o reuso com um balde e dava a água pros animais. Agora com o sistema do reuso, a água já sai limpinha e a gente consegue reaproveitar cem por cento. É uma encomia para a gente”, diz Solange. As famílias também conheceram o minhocário, onde é tirado o húmus que serve de adubo para as plantas. Solange explicou que não costuma colocar resto de comidas ou pó de café, pois, segundo ela, isso atrai as formigas e elas matam as minhocas. A agricultora coloca apenas estrumo do gado e areia.

Ao passar pelos canteiros, os agricultores receberam algumas mudas de hortaliças, plantas forrageiras e ornamentais, entre elas couve, pimenta, moringa, hortelã, gliricídia, aroeira da praia, batata, penicilina, que serve para ferimentos e também a erva babosa, que serve para dores no estômago. Ao visitar o banco de sementes, Solange falou sobre a importância de preservar as sementes. “Eu perdi o feijão azulão e conseguimos de novo a semente com um agricultor do Ceará, num intercâmbio que eu fui. E aqui no banco comunitário é assim também, quando um agricultor precisa, ele vem aqui, pega uma garrafa e quando ele colher devolve duas, para que o banco tenha sempre sementes para todos. Mas é importante que agente cuide da nossa semente, das sementes de animais, das sementes da paixão que vieram dos nossos pais e avós.”, conta Solange.

“As nossas terras são muitos parecidas, mas a nossa forma de trabalhar está bem diferente. Dona Solange tem muitas plantas diversificadas e as cisternas que chegaram para a gente fizeram a gente pensar melhor sobre os cuidados, a gente não tinha zelo, não plantava muito e hoje a gente está começando a perceber e a aprimorar”, contou o agricultor Jose Francisco Junior, da comunidade Carapebas.

No segundo momento da visita, foi apresentada a experiência do grupo de mulheres da comunidade Bernardo com o Fundo Rotativo Solidário, que é de tela e fogão ecológico, uma proposta de expandir as tecnologias sociais para as famílias que não foram beneficiadas ainda e gerar autonomia e renda para as mulheres.  A organização dos agricultores para a criação da Feira Agroecológica de Aroeiras, após a chegada do P1+2, também foi apresentada.

Para Solange, a organização da comunidade é fundamental para que mais famílias possam acessar as políticas públicas de convivência com o semiárido e fortalecer a agricultura familiar no município. “Quando a gente se organiza tudo dá certo. Depois das cisternas foi que a gente passou a se envolver na comissão municipal, no Fórum de Lideranças do Agreste, nos espaços que a gente pode se fortalecer pra que a comunidade cresça”, afirma Solange.

“Quando eu comecei a vender as coisas da minha horta eu comecei a perceber o quanto isso ajudava na minha renda. Bernadete, que também faz fundo rotativo, vende as galinhas dela por encomenda na feira, o pessoal liga e ela leva. Ela também faz bolo e doce de leite junto com a filha, Cidinha, já usando o fogão ecológico e eu também e levo pra feira. Com o fogão é muito melhor, a gente não gasta gás e usa os gavetos que tem na propriedade mesmo”, diz Solange.

O agricultor e pedreiro Ednaldo Pereira, da comunidade Carapebas, conta que já está pensando em como fazer o fogão na sua casa. “Há muito tempo eu tinha o sonho de receber a cisterna enxurrada e com o apoio do Centrac, participando da comissão, hoje eu tenho minha cisterna. Mas quando eu vi o fogão de dona Solange já fiquei interessado em fazer na minha casa. Eu também faço o reuso de água, é um pouco diferente, mas a gente vai aprendendo com o tempo”, conta Ednaldo.

“Esse momento é muito importante pra gente ir percebendo nossos erros e melhorar. E ainda bem que a gente veio visitar uma comunidade do lado de casa, praticamente, pra gente ver que também é possível fazer no nosso lugar. Colocar sombra nas palmas, nos animais, plantar mais, aguar direitinho, reutilizar a agua e se unir com a comunidade. Meus lerão já estão feitos e agora já vou começar a plantar”, fala a agricultora Luzinete Barreto, que recebeu a cisterna enxurrada.

Após o momento de avaliação, os agricultores receberam um boletim informativo com a história da família de Solange Araújo e partilham de um almoço com produtos da agricultura familiar agroecológica.