Famílias de Puxinanã participam de oficina para estocagem de forragem animal

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 5 de março de 2018

As 30 Famílias agricultoras de Puxinanã-PB, beneficiadas pelo projeto “Da Roça à Mesa: Tecnologias Sociais Gerando Autonomia e Renda no Semiárido Paraibano”, já estão participando de um processo de formação sobre a produção e a estocagem de forragem. O projeto é desenvolvido pelo Centro de Ação Cultural – Centrac com apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil – FBB, do Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento – CCFD, agência de cooperação internacional francesa e da Plataforma Mercosul Social e Solidário (PMSS).

Na última quinta-feira (01 de março), aconteceu a primeira oficina reunindo agricultores familiares de 15 comunidades do município de Puxinanã. Durante a atividade, facilitada pela equipe de produção animal do Instituto Nacional do Semiárido (INSA): Geovergue Medeiros, George Vieira, Romildo Neves e Carlos Trajano, foram apresentadas algumas espécies de plantas forrageiras, os tipos de forragem e os cuidados na hora de alimentar os animais.

O técnico Geovergue Medeiros destacou alguns tipos de forragem nativa da caatinga,  levantadas pelos agricultores e agricultoras como a macambira, a catingueira, o angico, o camará, a maniçoba, o marmeleiro.  “Cada planta tem nutrientes diferentes e também precisa de um cuidado diferente na hora do armazenamento e da alimentação dos animais. A maniçoba verde, por exemplo, se a gente der a um animal que nunca comeu, ele vai passar mal. E se você observar o animal no pasto, ele só come as folhas amareladas ou secas da maniçoba. Foi percebendo o comportamento dos animais que estudos detectaram que a maniçoba tem uma substancia que embebeda o animal e pode levá-lo à  morte. Mas, se a gente pegar a maniçoba seca, passar na forrageira e colocar para secar, não vai dar nenhum problema no animal”, disse o Geovergue.

O técnico também apresentou dois tipos de estoque de forragem: o vivo e o conservado. O estoque vivo é feito através das cercas vivas, substituindo as cercas de arames pelo plantio de espécies como cardeiro, macambira, aveloz e gliricídia. E o estoque conservado, que pode ser feito através da silagem ou fenação. “A cerca viva é uma ótima opção para estocar forragem. Um agricultor de Solânea fez todas as cercas da propriedade com espécies de forragem, ou seja, assim como na silagem ou na fenação, ele está criando uma poupança e economizando na ração animal”, disse.

O agricultor Inácio Gomes Barbosa, participou da oficina de silagem oferecida pelo Centrac em 2017. Após a oficina, fez dois silos em sua propriedade com o uso da palha do milho, capim e espécies de massa verde. “Foi a primeira silagem que a gente fez. Todo ano, pra poder alimentar o gado e as cabras, a gente gastava quase 3 mil reais de ração. O primeiro silo eu abri há quatro meses e ainda está durando, é muita economia. O outro silo a gente só vai abrir em 2019”, contou Inácio.

A equipe do INSA também está fazendo uma pesquisa participativa em várias comunidades do Semiárido pra observar as espécies forrageiras que os agricultores estão plantando e utilizando para forragem e também para informar sobre composição proteica de cada planta. “Tem plantas que não tem tanta proteína e não nutre o animal. A gente acha que está alimentando, mas na verdade está só enchendo a barriga. Por isso o animal precisa ter uma alimentação diversificada, assim como nós. O capim, por exemplo, tem 7% de proteína, a gliricídia tem mais de 17% por cento e mororó também. Essas plantas fazem parte do banco de proteínas, quando o animal é alimentado por elas ele dá retorno na produção do leite, porque consegue absolver melhor os nutrientes”, afirmou o técnico Romildo Neves.

No segundo momento da oficina, o técnico Carlos Trajano explicou como é feita a fenação.  Para o passo a passo, ele utilizou uma enfenadeira manual, feita com madeira, cordas, pregos e borracha de pneu. Para fazer o feno, Carlos escolheu o capim buffalo, muito utilizado pelos agricultores e agricultoras na alimentação animal, mas também apresentou vários tipos de farelo feitos com o sabugo do milho, vargem  da algaroba, torta algodão, mororó, juazeiro, pau ferro, entre outros.

“Pra fazer a fenação é preciso de três cordas de sisal, depois é coloca as travas da enfenadeira e em seguida o capim. Ele deve ser socado e ficar bem firme. Para saber o tempo certo de armazenar o capim é só torcê-lo, se ele não quebrar está no ponto certo de guardar. E é importante que o local de armazenamento não tenha umidade, pode ser em um local suspenso, feito de madeira. Nessa máquina manual pode ser feito de 18 a 20 quilos de feno”, esclareceu Carlos.

“Até agora eu não tinha pensado na importância das proteínas para os animais. Eu planto a gliricídia, mas só hoje pude perceber a importância e as formas que ela pode ser usada. Agora eu já estou pensando em plantar mais na minha propriedade e também de sempre variar a alimentação dos animais”, falou a agricultora Janete Santos, da comunidade Samambaia.

Ao término da oficina, foi encaminhada uma visita ao Instituto Nacional do Semiárido, para conhecer o laboratório, as pesquisas e entender mais sobre as espécies de forragens. E ainda algumas oficinas para fortalecer a produção e o armazenamento de forragem. Também foram distribuídas mudas de glicídica, planta leguminosa que fixa nitrogênio no solo, considerada de múltiplos uso. Serve para forragem, reflorestamento, adubação verde, cercas vivas e ainda tolera períodos prolongados de seca.

Banco de proteínas
As plantas forrageiras são encontradas na caatinga, vegetação predominante do semiárido, e ricas para a dieta nutricional dos animais durante os períodos prolongados de estiagem. Apesar das famílias agricultores oferecem aos animais essas espécies de plantas, algumas nem sempre têm o hábito de cultivá-las.

A produção e a estocagem de forragem é uma tecnologia social de convivência com o semiárido e se constitui em um banco rico de proteínas, com um sistema de produção integrada onde o cultivo é reservado para o plantio de plantas leguminosas forrageiras com alto valor nutritivo, como o sabiá, a leucena, a gliricídia, dentre outras.