Ciclo de oficinas sobre armazenamento de forragem é iniciado em Mogeiro com agricultores/as

Publicado por Thaynara Policarpo
Campina Grande, 11 de abril de 2019

Cerca de 20 agricultores e agricultoras de Mogeiro-PB, agreste paraibano, participaram da primeira Oficina sobre Produção e Armazenamento de Forragem realizada pelo Centro de Ação Cultural (Centrac) em parceria com a equipe de produção animal do Instituto Nacional do Semiárido (INSA). A atividade faz parte de um ciclo de oficinas sobre o tema que também acontecerá nos municípios de Campina Grande, Umbuzeiro e Aroeiras, como parte das ações do Projeto Quintais Agroecológicos: espaços de construção e autonomia das mulheres, soberania alimentar e nutricional e geração de renda, desenvolvido pelo Centrac, com apoio da Fundação Banco do Brasil Voluntariado (FBB).

O objetivo das oficinas é fortalecer a estratégia de estocagem de forragens com vistas a soberania e segurança alimentar e nutricional  e geração de renda e incentivar o planejamento da produção de forragem viva e conservada.

Dando início a atividade, realizada no Assentamento Dom Marcelo, os agricultores e agricultoras discutiram sobre quais plantas já utilizam na produção de forragem para o armazenamento em suas comunidades, como a produção de capim elefante e pangola, milho, cana de açúcar, mandioca, sorgo, palma, algaroba, leucena, cunhã e das plantas, feijão gandu, entre outras.  Das espécies nativas as mais citadas foram mandacaru, juazeiro, maniçoba.

Em seguida, o técnico e pesquisador do INSA, Geovergue Medeiros, falou sobre a composição nutricional das plantas forrageiras dando ênfase ao percentual de proteínas das forragens que os agricultores utilizam. As plantas leguminosas e as nativas são as que apresentam uma maior porcentagem de proteínas, numa média de 9% a 20%. O capim, o milho, a palma, são uma das forragens que apresentam uma menor porcentagem, de 4,5% a 9%. “É importante que a gente perceba o valor nutricional de cada planta, porque às vezes perdemos tempo cultivando um capim que não vai nutrir o animal como deveria e se a gente fizer uma forragem complementando o capim com a gliricídia ou com o mandacaru, por exemplo, o valor nutricional dessa forragem aumenta e o animal não vai perder peso”, afirmou Geovergue Medeiros.

O técnico e pesquisador também falou sobre as formas de armazenamento da forragem. “Hoje a gente vai ver na prática a técnica de fenação e ensilagem, que são métodos de conservação da forragem, uma maneira de a gente garantir segurança alimentar para o animal e ainda ter soberania que é não depender da compra de ração. Mas é importante a gente perceber que quando a gente cultiva, faz cercas vivas, a gente também está garantindo ração e sombra para os animais, criando um banco de proteínas”, disse Geovergue.

O agricultor José Maria da Silva, do Assentamento Dom Marcelo, disse que já gastou 1500 reais de ração este ano porque não soube armazenar a forragem. “Nossa comunidade está verde, cheia de vazante. No verão estará tudo seco. E eu acho que hoje a gente vai poder aprender como armazenar e ter ração animal e ficar mais tranquilo”, disse a agricultora Maria José, do Assentamento Dom Marcelo.

No segundo momento, foi realizada a prática de fenação e ensilagem. Carlos Trajano, da equipe de produção animal do INSA, apresentou aos agricultores diversas forragens cultivadas e nativas e os cuidados na hora do armazenamento. “Qualquer planta, à medida que vai crescendo, vai perdendo a proteína. Quando a gente corta um capim, a gente precisa deixar ele no sol, desidratando, mas deve prestar atenção na quantidade de sol, pra planta não perder mais nutrientes. Após um período de 24h de sol, dependendo da forragem, você deve fazer a torção na planta, se ela não soltar mais água ou massa verde, já está boa para fazer a fenação”, disse Carlos.

Na prática de demonstração da fenação, Carlos Trajano apresentou uma ensiladeira manual, feita e adaptada por agricultores e agricultoras e que também pode ser reproduzida na comunidade. Ela é simples e de baixo custo, feita com madeira, alguns ferros e cordão para amarrar o feno.

Na técnica de ensilagem de superfície e de saco, foram utilizadas quatro tipos de plantas: o capim, a gliricídia, a cana de açúcar e a pornuncia, com auxilio da máquina forrageira do agricultor José Antônio Oliveira. “Na silagem é importante que o silo seja bem socado ou compactado, porque o oxigênio prejudica a forragem, mofando e apodrecendo. Também corre o risco de o animal comer e ter uma infecção. Outro cuidado que a gente deve ter na ensilagem de superfície, é prestar atenção no local de armazenamento, colocar uma lona em baixo e fazer o silo onde não retenha água”, ressaltou Geovergue. O técnino falou ainda sobre a utilização de plantas como a maniçoba, o sorgo e a mandioca. São plantas muito ricas em proteínas, mas que precisam de um longo período de desidratação para que o ácido evapore. “A maniçoba chega a 16% de proteína, mas ela não pode ser utilizada na forragem no dia que foi cortada porque pode embebedar o animal e acabar matando, por isso o cuidado. Aqui é uma região de bom cultivo dessa planta e ela pode ser muito bem aproveitada. Após a secagem, não tem risco nenhum”, concluiu Geovergue.

O agricultor Eduardo Lourenço, do Sítio Granjeiro, disse que há 5 anos vem fazendo a ensilagem de superfície e contou que depois de cobrir a forragem com lona, colocou uma camada de 10 cm de aterro, pra evitar que a lona fure. “Sempre passa um animal por cima, chuva, então é sempre bom colocar o aterro pra não prejudicar o silo”, afirmou Eduardo. O agricultor Geraldo Antônio, do Assentamento Dom Marcelo, disse que já está pensando em reproduzir a máquina de fenação para utilizar na sua propriedade, aproveitando a forragem que ele já cultivou.

Ao término da oficina, os participantes refletiram sobre a importância do armazenamento. Também foi entregue um panfleto informativo sobre os cuidados na hora de armazenar a forragem. A técnica do Centrac, Madalena Medeiro, falou ainda sobre os benefícios da forragem para os animais e também para a autonomia das famílias agricultores. “A forragem garante soberania e segurança alimentar as famílias, porque quando o animal se alimenta bem, a família que vai se servir do leite, dos ovos e da carne do animal, também estará se alimentando bem. É economia na ração, autonomia e renda pra toda a família”, disse Madalena.