Filme “Garapa” é escolhido para liderar a Campanha pela Alimentação como um direito social

Publicado por swadmin
Campina Grande, 25 de junho de 2009

Fonte: www.inesc.org.br

O filme “Garapa” foi escolhido para liderar a Campanha pelo reconhecimento da Alimentação como um direito social. Para esse reconhecimento foi apresentado um projeto de emenda à Constituição inserindo no artigo 5º a palavra “alimentação”, entre os direitos já consagrados. O filme é um soco no estômago. O diretor não utilizou nenhuma trilha sonora. Utilizou os sons ambientes, das crianças, dos pais, dos bichos e das moscas que zunem a todo tempo. Pousam nas feridas das crianças, nos bichos, nos pratos de comida, como se disputasse ou fosse parte do subproduto da miséria.

Inesc – Chico Menezes, José Padilha, Edélcio Vigna e Renato Maluf

Edélcio Vigna, assessor do Inesc

O filme “Garapa”, de José Padilha, diretor de Tropa de Elite, foi lançado na Câmara dos Deputados, pela Comissão de Direitos Humanos, Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

O filme foi escolhido para liderar a Campanha pelo reconhecimento da Alimentação como um direito social. Para esse reconhecimento foi apresentado um projeto de emenda à Constituição inserindo no artigo 5º a palavra “alimentação”, entre os direitos já consagrados.

José Padilha retrata o dia-a-dia de três famílias pernambucanas que vivem na periferia da cidade abaixo da linha da pobreza. As mães, que são beneficiárias de alguns programas assistenciais dos governos, enfrentam a miséria extrema alimentando os filhos com água com açúcar, que é conhecido como garapa.

Os pais estão entregues ou a bebida ou a indolência provocada pela desilusão e o abandono cidadão. Os/as filhos/as, todos crianças, andam praticamente nus e se arrastam no chão dos barracos de terra batida entre bichos domésticos e mosquitos. A doença se propaga e a desnutrição é a característica predominante.

O filme é um soco no estômago e algumas pessoas não conseguem suportar o clima de miséria. O diretor não utilizou nenhuma trilha sonora. Utilizou os sons ambientes, das crianças, dos pais, dos bichos e das moscas que zunem a todo tempo. Pousam nas feridas das crianças, nos bichos, nos pratos de comida, como se disputasse ou fosse parte do subproduto da miséria.

O Estado aparece no filme somente na pessoa das assistentes sociais que trabalham nos Postos de Saúde da periferia. O único programa social é a cesta básica, que não dura mais que duas semanas. Fica evidente a fragilidade das políticas públicas implementadas pelos governos.

No debate, após o filme, o diretor Padilha disse, citando estudos da ONU, que com a aplicação de US$ 30 bilhões por ano a pobreza pode ser eliminada do planeta. Questionou a vontade política dos dirigentes globais que rapidamente arranjaram US$ 800 bilhões para salvarem o sistema financeiro da crise econômica e não oferecem 3,8% desta quantia para equacionar o problema da fome.

O Brasil, em 2008, pagou R$ 282,4 bilhões (US$ 140,7 Bilhões) em juros, serviço e amortização da divida pública e destinou R$ 28,4 bilhões (US$ 56,9 bilhões) para o Orçamento de Segurança Alimentar e Nutricional. Caso parte destes recursos fosse renegociada com os credores, pressionando-os em nome do social, a miséria e o seu subproduto mais direto a fome, poderiam ser equacionados em curto prazo de tempo em nosso país.

Depois da sessão de “Garapa” o presidente do Consea, Renato Maluf, José Padilha, várias lideranças de organizações sociais, professoras e alunas de nutrição da UnB, capitaneados pela deputada Emília Fernandes, pelo dep.Nazareno Fonteles e pelo senador Suplicy, foram recebidos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer. O Presidente se comprometeu a instalar o mais rápido possível a Comissão Especial para apreciar a PEC do direito a alimentação e declarou o seu apoio para sua aprovação.

Em seguida o senador Suplicy pegou José Padilha pela mão, o Renato Maluf pela outra e seguido das lideranças sociais e acadêmicas, praticamente invadiu o plenário do Senado, interrompendo a sessão e anunciando a PEC da Alimentação. O senador que estava presidindo a sessão ficou perplexo e antes que tomasse consciência do que estava acontecendo o senador Suplicy já estava contando o roteiro do filme e apresentando aos senadores o diretor José Padilha. A interrupção que durou cerca de dez minutos voltou ao normal quando o senador-presidente retomou a sessão agradecendo a presença dos visitantes e passando a palavra ao orador que estava na tribuna.

O grupo, diante ainda de seguranças inseguros, saíram como um bando de adolescentes a sorrir e comentar a estranha aparição que provocaram no plenário do Senado Federal em nome da PEC e da causa pelo direito a alimentação.